Costume antigo

17:07

Enfurecido, o vento assobia na rua. Habitual, o frio cola-se às paredes interiores da casa. Previsível, a geada cairá de madrugada.

Sobre a mesa repousa a caneta e o papel permanece intacto. Esta é a noite de deixar o computador desligado e cumprir com essa tradição cada vez mais antiquada de escrever postais com aroma natalício.

imagem retirada da Internet

Ao início, a mão parece ter perdido o jeito, de tão desabituada destas lides. E há toda uma arte que quase se perde por causa dessa vassalagem prestada a um teclado de letras formatadas e símbolos universais.

As primeiras letras ameaçam assumir o aspecto dos caracteres impressos, mas o que acaba por vingar é esse estilo de letras pequenas e apertadinhas, impossível de reproduzir fielmente. Aos poucos, esse desvelo com o aperfeiçoamento da caligrafia.

Por vezes, parece espontânea a tendência para ceder às abreviaturas e apressar a escrita, fazendo tremer a legibilidade. As gralhas, os erros de pontuação ou de concordância, os lapsos não aparecem automaticamente sublinhados a verde, pelo que é preciso reler depois do último ponto final.

Com a rotina instalada de escrever tudo no computador, definha o prazer que é escrever, usando apenas dedos, papel e caneta.

E há todo um ritual neste velho costume... Os postais chegam a casa por cortesia de quem, hábil e estoicamente, pinta com a mão, com o pé ou com a boca. Depois, retribuir o gesto e decidir qual dos cartões se identifica mais com o destinatário.

Às representações da Sagrada Família, do Pai Natal a distribuir sorrisos, das prendas debaixo da Árvore de Natal iluminada ou das paisagens vestidas de um branco algodão-doce, juntam-se palavras que saem livres e, em simultâneo, ordenadas.

Assim, de modo intuitivo e rápido, ficam os votos de Boas Festas personalizados e os sentimentos de afeição nas entrelinhas do que é escrito.

O chá já ferve. Enquanto arrefece, é aproveitar para selar os sobrescritos e copiar as moradas. Amanhã, serão remetidos para que, ainda antes do Natal, aconteçam sorrisos quentes ao desdobrar o postal.

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