Caracteres com carácter
23:30
Reencontro-te nessas palavras coladas num postal remetido de um país
distante. Reencontro-te nesses sorrisos que não toleramos que nenhuma máquina
fotográfica registe na sua essência. Reencontro-te nessas lembranças quentes,
quase cópias exactas do ontem que ficou entalado entre muitos hoje.
Reencontro-te nessas pequenas partilhas que cabem numa caixa de papel.
Reencontro-te na memória auditiva dessa gargalhada profunda e continuada. Reencontro-te
nesses reversos do passado nesta madrugada quase silenciosa, quase inquieta.
Reencontro-te, mas fazes-me falta aqui para conversar, deixando que as
palavras fluíssem sem que um qualquer relógio ou alarme nos desse a noção do
tempo, sem que alguém ousasse interromper o desfiar de acontecimentos ou
sentimentos.
Precisava de ti, aqui, para saber que compreenderias o que nem
precisava de te dizer e viria esse abraço esquadrinhado, seguro e tão familiar.
Preciso dessa noção de conforto, dessa certeza de ainda pertencer ao mundo que
idealizámos e pelo qual tanto lutámos. Sei que ainda queremos tatuar-lhe os
nossos sonhos, não importa o quão questionados já tenham sido, o quão chutados
para o esquecimento.
Preciso de olhar para ti e rever-me. Preciso de ver o teu olhar sereno
e penetrante para perceber que não posso ter vistas cingidas ao óbvio. Preciso
de ver os teus gestos largos e reconhecer-lhes a bondade que sempre te admirei.
Preciso de te ouvir rir para perceber que os meus lábios tensos não fazem
qualquer boa figura. Preciso daquelas noites insanas, de peripécias e de
desafios inesquecíveis.
Precisava que me levasses àquele sítio onde se vê um pôr do sol
tranquilo e demorado para perceber que o horizonte infinito não acaba com a
noite, com mais um dia. Ele renasce já dali a umas horas.
Amanhã será um novo dia, com todas as possibilidades ao meu alcance (queira eu realmente agarrá-lo). Precisava de partilhar contigo estas horas taciturnas para me sentir, novamente, com esse carisma que, um dia, me elogiaste e acabar com esta sensação de abandono anímico.
Amanhã será um novo dia, com todas as possibilidades ao meu alcance (queira eu realmente agarrá-lo). Precisava de partilhar contigo estas horas taciturnas para me sentir, novamente, com esse carisma que, um dia, me elogiaste e acabar com esta sensação de abandono anímico.
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