À deriva por aí

08:08

Sabes bem que a tempestade não passou. Sabes que não tracei a rota do regresso, mas sabes também que já levantei todas as âncoras e, agora, só as marés podem ditar o meu próximo destino.

Não corras atrás dos binóculos para veres onde vou aportar, já não há portos seguros que resistam a todas as intempéries. Deixou de fazer grande sentido para mim criar raízes se sei que, mais cedo ou mais tarde, elas terão que ser arrancadas. E sim tu sabes que não faz parte da minha natureza prender-me a um só sítio, a uma só pessoa, a um só mar.

Eu gosto mais de oceanos… (Sempre te disse!) Preciso desprender-me das trajectórias habituais, previsíveis, seguras. Mais do que querer, preciso de correr atrás daquilo que desconheço, correr os riscos de ver a minha embarcação afundar com dignidade.

Eu tenho sempre por perto uma bóia ou um colete salva-vidas, mesmo quando as tempestades são longas, fortes e altamente destrutivas. O meu amor pela vida é bem mais avassalador que qualquer tempestade e nada nem ninguém o podem retemperar.

Gosto de me sentir assim: à deriva por aí, tendo a liberdade como a única companheira a bordo. Sabes que eu não estou perdida, porque tenho um bom sentido de orientação e sabes ainda que às vezes não o uso de propósito, para me afastar até ao largo.

Quem navega nunca volta da mesma forma que partiu, nunca faz exactamente o mesmo caminho e raramente regressa sem ser por si. Pois é, se eu voltar, não voltarei da mesma forma que parti, se o fizer não percorrerei o mesmo caminho e se eventualmente regressar não é por algum motivo exterior, mas por mim.

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