Entendido?

03:00

Tu começas aqui, eu termino ali. Como podes atirar-me já com “não consigo” se ainda nem sequer descruzaste os braços? O teu problema não é lançar mãos à obra e vencer essa insegurança inicial. Tu só não sabes se queres terminar. Portanto, somos como o sol e a lua, porque eu sei que vou conseguir e acredito nisso contra todas as evidências oponentes.

Se, às vezes, me falha a vontade, olho de frente as certezas que se perfilam cá dentro para as fazer desfilar aos olhos dos outros. Contudo, também já me faltou o empenho, a garra, a capacidade de concretizar a intenção de buscar alternativas para escalar o poço.

Um dia, faltaram-me as redes, os coletes salva-vidas, os cintos de segurança e demais mecanismos de retenção e protecção em caso de acidentes. Não que os tenha dispensado. Eles é que não se ajustavam à velocidade das minhas acções.

Por isso, é que já cai, fui atropelada, sofri fortes embates, fiquei em coma e tive demoradas convalescenças. Em todos os percalços, a memória foi a única coisa que nunca ficou afectada. Ela continua intacta e eficaz desde o primeiro dia em que a luz impressionou os meus olhos.

Tu esqueceste-te do que foste e recusaste a assumir como estás. Há em ti uma aparência que engana os demais e um desconhecimento sobranceiro do que significa trabalhar em conjunto. Isso exige competência aliada a compatibilidade de atitudes perante a vida.


Podemos até continuar a esforçar-nos, mas não vamos mais longe do que isto. Não consigo tolerar estar no mesmo barco, remando para alto mar, enquanto tu, do outro lado da proa, tentas lançar a corda para o cais. Não pode ser!

Eu gosto de desafios que testem os meus limites, que mexam com as minhas emoções, porque só assim aprendi a conquistar, a pulso, tudo aquilo que tenho. Depois, eu não gosto de dias retalhados, mas de uma existência com travessias turbulentas.

Sim, claro, também me sinto cansada, desmotivada e desnorteada. Nessas alturas, preciso de uma boa noite de repouso, em que a minha mente se permita abandonar o corpo. Nesses momentos de tréguas prefiro lembrar a tua outra imagem, cujos contornos diferem daqueles com que me debato no barco. Ali, ainda eras destemido e aguerrido. Por isso, me enerva tanto que deixes os medos e as falsas acalmias levarem a melhor sobre as tuas capacidades, sobre o teu talento e, sobretudo, sobre o teu instinto.

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