Contrariedades incontornáveis
01:03Não evito cruzar-me contigo por aí, mas a tua presença chega a incomodar-me. Somos independentes um do outro, quase completos desconhecidos. Temos círculos de amigos diferentes e posições remotas perante a vida. Ainda assim, nos sítios mais improváveis, nas circunstâncias mais estranhas acabamos sempre por nos encontrar.
E entre nós não há sequer uma palavra e só muitos olhares cruzados, à revelia. Mesmo que em nada me devas explicações do teu comportamento, não consigo chutá-lo para a indiferença. Sinto uma subtil provocação nesses teus olhares levianos, como se explorassem os confins da minha paciência.
Já passámos algumas noites nesse jogo confuso, em que os ângulos se redimensionam para que possamos encaixar-nos na mira um do outro. Com olhares certeiros, largamos interpretações vazias ou ambíguas, que prescrevem ao fim de algumas horas.
Deixámos de nos conhecer já há muitos anos atrás, quando os nossos braços ainda não tinham crescido e conservávamos os sorrisos. Hoje, perdida a inocência, alimentamos este vaivém esquizofrénico sem qualquer pudor.
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