No vazio de dar

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Este é um gesto largo, profundo, bem dimensionado em toda a sua generosidade. Este é um gesto intencional que brota do carinho mais puro que cresceu em nós desde que tu lançaste as sementes.

Este é um gesto simples, discreto, sincero. Não espera aplausos, reconhecimentos, olhares de admiração ou vagas de emoção.

Este é um gesto partilhado, absoluto, íntegro, sentimental. É um gesto trazido pelas nossas mãos como uma mensagem vinda do peito. Este é um gesto que só procura resgatar um sorriso verdadeiramente alegre.

Este é um gesto que não aspira mais do que isso. Não foi concebido para enfrentar a tua indiferença. Este é um gesto que não podia, de modo algum, esbarrar numa interpretação superficial.

É um gesto expulso, por fim, do nosso território emocional. No seu rasto ficaram palavras de mágoa e de revolta que mergulhámos nesse silêncio cúmplice.

Este foi um gesto enorme que não soubeste acolher. Foi um gesto pequenino que só queria conhecer a textura do interior dos teus antebraços.

Este foi um gesto alimentado por muito tempo, numa euforia serena e secreta. Entre nós, tu és o elo que faz com que tudo continue a fazer sentido. É graças a ele que chegamos a gestos como este, lembrando-nos que tu não és assim.

Este é um gesto que devia saber à felicidade que nasce nos quartos da maternidade. Este é um gesto que cresceu, embalado com carinho, olhado com surpresa. Este é um gesto conservado quente como pão acabado de sair de um forno a lenha a fumegar (já quase desmaiado) entre os nossos dedos.

Este foi um gesto entregue com a rapidez, o silêncio e um sentido especial semelhante à recepção de uma carta ou um postal de um amigo distante que guardamos entre os móveis da saudade no nosso guarda-coração.

Este foi um gesto trucidado pelo teu olhar de indiferença não aparente, pelo distanciamento do teu corpo. Este foi um gesto sucumbido nessa esperança de que teria um poiso para a eternidade.

Este é um gesto que ficará entre nós como a convicção de que a entrega, o tamanho, a intensidade, o valor das coisas que fazemos pelos outros é intrínseco a nós, mancha-nos seja ele bem ou mal intencionado.

E, apesar de soterrado nesse mutismo remendado por tiras de angústia e chapas de vislumbres entristecidos, este gesto continua a ser enorme.

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