Resignações
16:28
Estava ao canto, junto das portas envidraçadas na entrada
principal da pastelaria. Estava ali, ao canto, tão abandonado como ausente.
Esperava entediado com o vagar do tempo.
Ao lado, uma mesa ocupada por um homem engravatado em fato
elegante e um miúdo de oito anos embeiçado por uma bola de berlim.
Esperavam entretidos.
Lá do canto, ele tinha perspectiva para a preguiça de final do dia
dos empregados. Torpes e indolentes.
O homem engravatado manuseia um ecrã luminoso e impacienta-se com a
insistência do filho que o observa, inquieto.
Os seus olhares nunca se cruzam.
Há demasiada indiferença, uma pressa excessiva, um desdém
insolente para reparar o outro, para fixar o seu rosto. Seguimos, anestesiados,
nessa romagem em areia grossa.
O homem engravatado e com fato elegante ergue-se repentino. Levanta
o braço e faz sinal ao empregado momentaneamente solícito. Deixa os trocos e
puxa o filho pela mão.
Passam por ele, que continua apoiado sobre o tampo da mesa ao
canto, abraçado por essa solidão que fica depois de todos partirem para os seus
afazeres.
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