3.10.2007

Bancos do liceu

É aqui, nestes bancos de madeira gasta pelas gerações que por aqui passaram, que a consciência se despega do presente e voa para outros tempos. Não vou dizer que não sinto saudades desses tempos que passaram repentinamente a ser passado. Olho para as paredes, os mesmos desenhos de antes, as assinaturas intemporais, aquilo que ali ficou de alguém que partiu e não voltou.

O edifício das inúmeras janelas que, hoje, observo à distância é um local que me pertence de alguma forma pelas pequenas e imensas memórias que ainda faz nascer em mim. Gosto de voltar aos locais por onde passei e nos quais permaneci por algum tempo. Gosto sobretudo de ver como continuam imóveis e imutáveis e ver o quanto eu mudei desde então, como mudou a minha maneira de os ver.

Acho que, às vezes, isto me faz falta. Porém, já não estão aqui os sonhos de chegar mais longe. O campo de futebol está vazio e já não ouço as vozes a desafiar-me. Os bancos estão desocupados e já não há quem me chame de lá. Os caminhos por detrás do liceu já não significam o espaço de recato e distância dos olhares públicos. As escadas laterais já não são o lugar das risadas em tardes solarengas.

Hoje cai chuva e sinto um certo vazio feito de nostalgia… Aqui recordo-me também das pessoas que agora já não lembro, porque foram para longe sem perceber porquê. Sei que é improvável que voltem aqui, mas se voltarem é impossível não lhes acontecer o mesmo.

Nestes bancos do liceu, já não estão os grupos de antes naquele determinado lugar que era o “canto deles”, já não estão as caras familiares, os rostos conhecidos. Agora, tudo é diferente por aqui e quase sem significado. Já não se ouve a algazarra dos feriados e a euforia dos intervalos, há apenas um silêncio imanente a isso, um silêncio que resulta do que já aqui não está.

3 comentários:

  1. (...)Mas tudo isto foi o Passado, lanterna a uma esquina de rua velha.
    Pensar nisto faz frio, faz fome duma coisa que se não pode obter.
    Dá-me não sei que remorso absurdo pensar nisto.
    Oh turbilhão lento de sensações desencontradas.
    Vertigem ténue de confusas coisas na alma!
    Fúrias partidas, ternuras como carrinhos de linha com que as crianças brincam.
    Grandes desabamentos de imaginação sobre os olhos dos sentidos...
    Lágrimas,lágrimas inúteis, leves brisas de contradição roçando pela face a alma.
    Não poder viajar pra o passado, para aquela casa e aquela afeição, e ficar lá sempre,sempre criança e contente!

    Fernando Pessoa

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  2. Aqueles bancos,aquelas paredes, aquelas inscrições, aquelas conversas, aqueles risos, aqueles jogos de basket e futebol, aquelas gargalhadas bem audíveis,aqueles feriados que transbordavam alegria, aquele chão com vida, tudo aquilo... se fechares os olhos permanece tudo intacto, continua tudo lá tal como o deixaste ( :) )

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  3. Gostaria só de acrescentar que estes eram os tempos do bagaço para tirar a geada do cabelo!!! n era menina patrícia?? lololol ah grande fernando que continua a saber fazer-nos rir!! :D

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