Os olhos fechados, submersos num descanso inconsciente. A noite a escorregar para a manhã que irrompe pelos buracos da persiana e chega quente, através da janela aberta. Toco os lençóis emaranhados no fundo da cama, com os pés frios.
Estico a mão para o telemóvel e leio-te a estranha confidência. Sei que sorri pelo significado dessa partilha. Era tão sincera e, simultaneamente, tão pouco consentânea contigo. E permiti que ela se incrustasse, inopinadamente, no coração.
Guardei durante anos e recupero-a com a nostalgia desses Verões eternizados numa gargalhada comum.
«Por vezes, todos nós, aqueles que nos agarramos no pêndulo das horas que não passam, sentem o quanto custa sentir a solidão, o pensamento, a ideia de só te poder abraçar quando a vida nos permita. Lamento não estar sempre presente…»
Agora, chega a ser doloroso aguentar tanto tempo sem um sinal de ti. Não é a distância geográfica que me incomoda. Não é a tua falta de atenção ou de lembrança que me deixa triste. Não é a tua aparente indiferença que me suscita dúvidas.
O que me custa verdadeiramente é saber dos teus regressos fortuitos depois das tuas partidas. Assim, comentados à mesa de um café, por acaso. Falam-me de ti, da reviravolta da tua vida, de transformações que continuo a acreditar impossíveis.
Quando tento adormecer, ignorando a temperatura, questiono-me se continuarás a sentir a velha solidão ou o desejo de estreitar-me entre os teus braços, afastando todas as ausências e saudades inconfessáveis.
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