Almejar

18:59


Compreendo-te, bom amigo. Os teus olhos, incrédulos, antecipam-se às palavras de indignação indomável. Estou do mesmo lado da barricada: daqueles que acreditam afincadamente que ainda não é o momento de entregar as armas e assinar a rendição.

Para eles, basta tão pouco. Sabemo-lo e condenamo-lo. Querem só os dias encaixados numa rotina que os poupe a uma panóplia de inquietações e cuidados. Desejam uma linearidade esférica e ténue. Aplaudem as continuidades sem emoção.

Para nós, isso nada nos diz. Orgulhamo-nos até dessa constante insatisfação. Queremos os dias como folhas sem margens que nos obriguem a deixar marcas para o amanhã. Gostamos dos percursos de contra-curvas, sentidos sem travar.

Ouves as frases feitas apregoadas como as mais acertadas. A sua vulgaridade quase nos leva a rir com ar trocista. Não o fazemos, mais por respeito do que por vontade. Porém, são eles, os incapazes de escalar a sombra do ideal, que aparentemente vão conquistando.

Nós, inveterados ambiciosos, conservamos um ar sisudo e reservas no íntimo. Aparentemente. No essencial, uns desejam o sol, outros a lua e nós só nos contentamos, minimamente, com o firmamento.

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