“Até logo, tristeza – autobiografia de uma depressão”, de Assumpta Roura
É duro enfrentar a traição de um amigo. Sendo uma pessoa na qual confiamos, a sua traição causa-nos uma tristeza enorme. Por algum tempo, somos incapazes de fazer o nosso coração ressurgir dos destroços. Além da tristeza, cresce em nós um sentimento de vingança ou, então, um ressentimento profundo. Contudo, percebemos que não podemos fazer nada para voltar atrás, que esse amigo não pode corrigir o erro que fez e do qual se arrependeu, então deixamo-nos comover, ficamos sensibilizados e deixamos sobreviver a necessidade que temos dessa amizade. Podemos não perdoar, mas conseguimos passar à frente. Segue-se a reconciliação que é tanto mais fria quanto mais grave foi a traição. A pouco e pouco, a jogar a favor do tempo, voltam a proximidade e a cumplicidade - não iguais ao que foram um dia (pois há coisas que não se esquecem). Mas o importante é que voltam a ser de alguma maneira.
Quando falhamos, sentimo-nos profundamente tristes, vemos as nossas expectativas defraudadas, os nossos esforços irreconhecíveis, o nosso empenho menosprezado, a nossa persistência desvalorizada. Temos duas alternativas: desistir ou reunir as derradeiras forças, pegar outra vez nas armas e ir à luta. Creio que há situações em que é desnecessário voltar a insistir, a menos que se pretenda acumular fracassos sucessivos.
Se o amor que alguém sente por nós se revela insuficiente ou pouco duradoiro, ficamos tristes, entregues a doces lembranças. Até que, novamente, por acaso, sem darmos por isso, surge outra pessoa com um amor maior para nos oferecer. Podemos sentir medo de sofrer outra vez, todavia podemos também ignorar o medo e aceitar arriscar mais uma vez.
Há 1001 razões para nós sentirmos tristes, por várias razões (umas mais importantes que outras, porém quer umas quer outras têm igual legitimidade) ou por nenhum motivo. Sentimo-nos apenas tristes. Podemos procurar o conforto nos braços de alguém ou encontrá-lo junto de nós próprios, numa solidão sentada à beira de nossa vida.
Sabes ... isso já me aconteceu ...
ResponderEliminaré duro mesmo ...
mas depois fica-se a pensar: aquele amigo não era amigo ... mas sim amigo da onça ...
porque as amizades não acabam ... não há lugar para traições...
bom fim de semana
bjs
Palavras muito inspiradoras...
ResponderEliminarGostei muito do texto!
Tomei a liberdade de o mostrar no meu blog.
Toda a gente se revê um pouco nessas palavras.
Obrigado.