7.20.2007

Nos passeios da cidade grande

Já não somos capazes de ir pelas ruas concentrados nos pensamentos que se imiscuem no barulho do trânsito, no toque da multidão nos passeios apertados, nas cores dos semáforos, no tagarelar circunstancial dos conhecidos que se cruzam.

Vamos andando por aí, agarrados ao telemóvel, a falar com alguém distante ou que já está mesmo ali, ao virar da esquina. Teclamos quase automaticamente e enviamos mensagens até perdermos a conta. Caminhamos em silêncio, mas já não ouvimos o movimento natural das ruas apinhadas de gente, porque levamos headphones para ouvir a música do MP3 ou para ficar a par das informações. De máquinas fotográficas em punho, estacionamos no passeio e reagimos ferozmente quando alguém reclama ou nos empurra sem intencionalidade. Temos a necessidade de andar pelos passeios e, em paralelo, realizar qualquer actividade “compatível”. Caminhamos abstraídos do que nos rodeia...

Não queremos saber das horas que o sino toca ao longe. Não importa o som das buzinas dos automóveis que têm pressa. Hoje nem sempre reparamos no carro que passa mesmo quando o vermelho cai. Já não ouvimos o choro da criança que vem na nossa direcção, pela mão do pai, a fazer birra. Não retribuímos o sorriso de quem, por cortesia, nos agradece quando nos desviamos para deixar passar porque vinha carregado com sacos ou malas. Não paramos para responder à idosa que nos pergunta as horas, porque seguimos abstraídos e surdos.

Quando as ruas se cruzam, as pessoas dispersam-se. Vamos afastando-nos do conceito de transeunte que facilmente se distraia com alguma coisa, mas atento! Atropelamo-nos, irritamo-nos e passeamos a nossa individualidade nos passeios estreitos apinhados de gente.

3 comentários:

  1. Isto é o dia-a-dia numa grnde cidade... É triste como nos tornamos tao insensiveis :(

    As novas tecnologias são boas, mas tb nos trazem aspectos negativos. Deixar de ouvir o barulho d uma rua movimentada para ouvir a musicado MP3... Como mudamos por causa disso :(

    Bjo*

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  2. E apenas um problema da sociadade! Somos todos regidos pela sociedade em que vivemos, nao podemos alterar nada do que descreves! Tenta tu propria quebrar a rotina, quebra as regras que a sociedade te impoe no dia a dia e ve o que acontece a tua vida!
    Somos impotentes ao avançar do tempo, por esta razão, adoro os poucos momentos que passo na minha aldeia...

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  3. .........................................................................................................
    Já quantas vezes gritei assim?
    Em vão!
    Os gritos são armas que só magoam nuvens.[Não,viver não é imaginar que se vive]
    Há tanto tempo que me magoa esta habituação de viver dentro duma máquina.Quantas vezes tenho eu escrito esta poesia?
    E continuarei a escrevê-la!
    Sempre pior que a anterior.
    Sempre o mistério do costume por dentro do frio e do lume.
    Sempre esta maldita repetição habituada, que já nem é mistério nem nada!Mas quando nascerão nas árvores braços azuis para nos servirem frutos?
    Para quando o céu de pele humana arrepiado pelas lágrimas das andorinhas?^OOOOOOO^
    Venho do silêncio das ruas desertas, cansado de imaginar lágrimas no mundo.
    Ah!Que ninguém se atreva agora a chorar diante de mim lágrimas autênticas!
    Só as outras me comovem, a música das lágrimas que trago no coração a gelar-me os olhos desta ternura seca, de amor implacável pelo mundo.
    Não.
    Já nem a morte tem imaginação.
    Deixem-me ao menos este orgulho de sofrer,cósmico e sozinho.
    [Amor implacável pelo mundo]
    Saudades de não poder inventar o futuro.

    mike

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