8.29.2007

À beira-mar, a tentar ancorar…

Após horas que devoraram a minha paciência, reencontro finalmente a paz que traz a liberdade pela mão. Aqui, na areia fria e suja, já posso ficar calada sem me sentir ultrajada. Junto ao mar, sabe-me bem o rebentar salgado das ondas. Nestas horas vagas que se estendem pela madrugada de maresia, acendo um cigarro, sem vontade de o consumir.

O embate das ondas nas rochas imponentes lembra-me as mágoas que vêm e vão nestas madrugadas solitárias. Penso nos que, atrás de mim, depois das dunas e para lá da estrada, vivem sozinhos e ressentidos das solidões que os habitam. Eu não gosto de partilhar a minha e também não me envergonho por ela, porque só ela me devolve o bem-estar necessário, a compreensão que não encontro em alguém, a confraternização mais justa e recíproca. Não lhe exijo presença, ela acompanha-me sem me exigir exclusividade. Tacitamente, eu acabo por não a deixar perturbar.

Hoje penso ainda nas perspectivas que se desmoronam nas rochas e corre uma aragem, leve e superficial, tão superficial e leve que nem chega a atingir a alma!), passa por mim. É preciso que a persistência renasça e os ideais se reconstruam. Aos ouvidos chegam-me os murmúrios das conversas que roçam a futilidade dos encontros com gente diferente. Pessoas que acabaram de se conhecer e, por isso, tentam encontrar um mínimo denominador comum para tema de conversa.

Chamam-me e tenho que ir. Acabo por me integrar sem esforço. Contudo, a vontade continua presa àquelas ondas constantes que metaforizam as tristezas que ainda me falta viver, que prometem outras alegrias para acrescentar às que já aportaram na minha vida.

4 comentários:

  1. Em primeiro....ancorar e uma forma um pouco vulgar....o correcto e dizer "fundear"! lol. Isto sao as lavagens cerebrais! lol
    Quanto a magoa ou a solidao a que te referes....so desejava que fossem apenas palavras escritas e nao sentidas!

    kiss

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  2. "Nao sei se o mar tem voz / Mas a sua voz / Desde pequeno me falava lento. / Mas sem saber se tinha voz o mar / Ouvia a sua voz. / E sem saber se tinha vida ou nao / Sentia a sua vida. / Foi ele que me disse / Que havia Espaço e Tempo. / E comecei a viajar sem medo da viagem. / E nunca mais parei / Com medo da paragem". Fernando Sylvan. Bom blog! bB

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  3. Patrícia,
    que belo texto leio neste dia...antes noite... que me encho de coragem para voltar a esta blog-vida.
    O mar diz-me muito....um dia conto o que para mim significa...a tua visão deste mundo é tão interessante!
    A exposição correu bem, obrigado.
    Estive noutra de fotografia em Cascais e vou estar amanhã na Galeria Artur Bual numa colectiva de homenagem a Cruzeiro Seixas.
    Mas não é relevante. O teu mar, sim!
    Um bom fim de semana!
    Beijo

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  4. para começar, este texto é extremamente belo porque fala do mar, mas é mais ainda porque foi a minha maninha a escrever ;)
    Está mesmo excelente a forma como associas as coisas da vida à praia..
    É lindo o mar, a areia, a brisa, tudo.. E como isso nos recarrega energias! =)

    "acendo um cigarro, sem vontade de o consumir."
    Q fino! loooool =P

    beijO

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