8.01.2007

Tentando perceber a ordem das coisas...

Já somo uma quantidade invejável de pequenas frustrações e, à minha volta, acumula-se um número considerável de desilusões. Colecciono os sonhos que o tempo desfez e sou uma testemunha idónea do quanto já se me escapou por entre os dedos como o ar que não se consegue agarrar.

Aprendi que as probabilidades de ter aquilo que penso que me pertence efectivamente podem ser reduzidas até à nulidade ao mínimo gesto imponderado, à mais curta palavra lançada como arma de arremesso. Vou especializando-me em esperas que não têm prazo, em conformismos fundamentados por evidências que gostaria de negar.

Não sei quem se preocupou em traçar caminhos labirínticos que, à distância e observados com sentido estético, podem ser confundidos com um quadro do mais puro abstraccionismo, no qual predomina o fundo negro rasgado por traços carregados com a sujidade de um branco.

Eu gosto é de ver o pincel do tempo deslizar pela tela da vida, quando é apoiada pelo cavalete dos sonhos. Deito um olhar interessado aos traços inclinados das emoções fugidias. Sinto as cores escuras como os pilares da minha alma cinzenta e as linhas que se cruzam, em figuras indecifráveis, como os enigmas dos meus dias.

Choro sobre as matizes da manhã febril, porque percebo que também não há ordem no mundo lá fora: no passeio, cruza-se a menina rica e o idoso remediado; na estrada, segue uma mota comprada em segunda-mão e, no sentido contrário, vem um topo de gama; na praceta, as crianças brincam e os jovens fumam umas drogas; no café, junta-se o trabalhador com a instrução primária e uma patente militar; no mesmo prédio, mora o humilde alfaiate e a viúva endinheirada.

Todos eles sofrem, seja pela sua pobreza ou pela sua riqueza. Por detrás das aparências da normalidade, há as realidades que os aprisionam. Portanto, se não há ordem no mundo lá fora, porque desespero eu por trazê-la para dentro do meu mundo?

4 comentários:

  1. Começa hoje a verdadeira Odisseia, não de Homero, mas da Kalinka...estás curiosa?
    Então...
    vem espreitar:

    Uma dessas comodidades são as ruas subterrâneas, uma verdadeira cidade por baixo de ------, que permitem que a população transite sem precisar de casaco, botas, gorros e luvas. Ali, a temperatura é normal, talvez até um pouco quente demais. Na cidade subterrânea, as principais ruas do centro são interligadas por túneis, passagens para peões e escadas rolantes que ligam prédios comerciais, estações de metro, áreas de lazer, cinemas e hotéis, facilitando a vida dos peões. São mais de 30 km de extensão, onde as pessoas se encontram protegidas. Os turistas ficam fascinados com isso e, quando voltam da viagem, é só no que falam, como se em ______ não houvesse nada mais interessante que isso.

    Bom fim de semana.

    ...falas em tristezas, desilusões...!!! arrebita Amiga.

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  2. BRAGANÇA...
    pois já me esquecia de dizer-te que, nesta viagem de 8 noites e 9 dias por terras do Canadá conheci 2 professoras de inglês que vivem precisamente em Bragança...

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  3. Colecionar frustaçoes e desilusoes e o passatempo mais comum nas nossas vidas, tudo isto com um sabor pouco agradavel! Cabe-nos a simples tarefa de olhar a vida de outra forma, e tomar uma decisao, ou entramos definitivamente na onda da sociedade ou simplesmente cortamos relaçoes com ela e vivemos a margem! Nao podemos fingir que pertencemos a esta sociedade "estupida" e lutamos dia apos dia contra ela, desta forma, so podemos esperar frustaçoes e desilusoes!
    Desesperas porque es mais uma vitima do mundo que te rodeia e que nao compreendes! Ambicionas, tal como eu, posso dize-lo, mudar o mundo, anseias pela tranquilidade e pela ordem tal como eu, apenas nos resta esperar!

    ;)

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  4. “Aquele peso em mim - meu coração.”

    Fernando Pessoa,1932


    [mike]

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