Momento de inspiração forçada

09:01

Bom, depois de um fim-de-semana agitadíssimo, deixo-vos com o texto descritivo que tive que escrever para a disciplina de rádio. Penso que preenche os requisitos mínimos de qualidade para colocar no blog! :)

A multidão frenética precipita-se inquieta, abandonando as ruas. Carros e motas passam velozes, com pressa de chegar, sem reparar na beleza ímpar do pôr-do-sol na linha longínqua do horizonte.

Sopra uma brisa suave, quase imperceptível, e há um aroma doce que vem de uma qualquer casa modesta. As folhas amareladas caem frágeis. Os velhos desamparados deixam os bancos vermelhos do jardim, ao som do jorrar calmo da água, na fonte que lhes é familiar.

As ruas estão iluminadas e vazias.O céu está repleto de múltiplas estrelas cintilantes, cujo brilho ofusca nesta noite fria e discreta. Lá longe, a luz pálida da lua passa despercebida ao chefe de família que espera, pacientemente, pelo jantar. As estrelas lapidadas são indiferentes às crianças fascinadas por um ecrã distante e impessoal.

Só aquele que vagueia sozinho, em silêncio, pela rua deserta, consegue ver a perfeição e o encanto de um anoitecer sereno. Absorto ao barulho ensurdecedor de discussões acesas e conversas animadas nos cafés; alheio ao riso contagiante das famílias em casa; indiferente ao entusiasmo eufórico dos jovens à porta das discotecas.

Escuta solenemente o eco da sua respiração pausada. Subitamente, o ladrar estridente e inesperadao de um cão vadio. Sente o vento tocar-lhe os cabelos desalinhados, trazendo um prenúncio de chuva. Sente-a, gelada e reconfortante, antes mesmo de lhe cair no rosto, cansado e triste.

Acende um cigarro barato e caminha lentamente. Os seus passos, vagarosos e pesados, soam pela calçada suja... Hoje é apenas mais uma noite.

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