“Poema da Terra dos Homens Curvados”

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este é o poema aos que não choram por vergonha
aos que ficaram lábios secos por pudor
aos que amando viveram sem amor
ao mato que tapa as estradas
aos caminhos sem beleza
aos homens que não refloriram
e não cumpriram natureza
este é o poema do que vestiram armaduras sem sentido
e dos que lhas vestiram como se fora um vestido
este é o poema aos poetas que calaram a verdade
aos pintores que não pintaram a sociedade

este é o poema aos que tiveram medos e respeitos
aos que viveram frustrados e em cobiça
aos que morreram e não deixaram justiça
este é o poema em que canto o perdido da vida
dos que marcaram a vida (ou dela foram marcados)
este é o Poema da Terra dos Homens Curvados!

poema da terra dos homens curvados
dos homens sem rosto ou rostos parados
dos homens sem gestos ou gestos escusados
dos homens sem sonhos irrealizados
dos homens dormentes estendidos por terra
que lutam na frente e não querem guerra
que falam criticam e ficam parados
que escrevem seu fado na letra dos fados
que julgam que crêem e ficam na reza
que rasgam com as mãos os sulcos da terra
que fazem nascer crianças sem sonho
que querem futuro e não o constroem

homens desta terra que têm sol e mar
que vos fez assim

haveis de julgar.
Moita Macedo

Descobri recentemente a arte deste poeta e pintor ribatejano. Como gostei deste poema, achei que devia postá-lo para que Moita Macedo deixe de ser um nome que vos é desconhecido.
A título de curiosidade, Moita Macedo nasceu em Benfica do Ribatejo (1930) e faleceu em Lisboa (1983). Participou em cerca de uma centena de exposições de pintura individuais e colectivas, em território nacional e no estrangeiro. Como escritor, alguns dos seus poemas estão publicados no livro “Cantares de Amigo” e na imprensa regional.
Tenham um bom fim-de-semana!

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