“A recordação é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos.”

15:09

Já não sei quem escreveu isto, o que interessa é que gostei desta frase… Como hoje, por breves instantes, recordei tempos passados apeteceu-me escrever sobre isso. Regressei àqueles tempos que ficaram lá para trás, àqueles a que um dia acabamos sempre por recordar na ilusão de poder revivê-los só de os relembrar. É demasiado bom recordar… E ninguém nos pode impedir disso, além de nós próprios e mesmo nós, por muito que tentemos faze-lo, não conseguimos.

Era tão incrivelmente bom correr a uma velocidade supersónica atrás de alguém para o apanhar; ver, da varanda, um balão perder-se no céu; dizer o que se pensava em qualquer circunstância; acordar cedo num domingo de manhã para ver os desenhos animados; esconder-se de alguém para não ser repreendido; gostar genuinamente de alguém; andar de bicicleta, sentir o ar frio gelar-nos a cara e cair algumas vezes; chorar por coisa nenhuma; ultrapassar alguém na fila que demorava o acesso ao escorrega vermelho; descobrir a adrenalina de fazer o contrário daquilo que nos ordenavam; ficar impressionado por tudo e por nada; resolver os atritos com os outros, fazendo justiça pelas próprias mãos; comer rebuçados até não poder mais; tropeçar num pé colocado de propósito e desatinar; almoçar a correr para ir jogar futebol sob um sol escaldante; refilar sem receio de sofrer as consequências; cantar a plenos pulmões palavras cujo significado era desconhecido; escrever papéis e passá-los por debaixo da mesa; aprender o significado da amizade; ser autor(a) ou co-autor(a) de traquinices feitas em prol do bem geral e exaltadas como patrióticas; desenhar, numa folha, uns riscos e ter orgulho da obra de arte; ser egoísta ao ponto de não abandonar o baloiço e ceder o lugar a outros; chegar a casa cansados de brincar e adormecer, parecendo que a vida continuava no sonho, etc.

Ás vezes, era tão mais fácil não crescer… Não ter que pensar que um dia as coisas acabam por mudar de rompante, sem que tenhamos tempo de nos apercebermos que perdemos esse tempo para sempre, que algumas pessoas se afastaram, que pequenas coisas se tornaram insignificantes… Velhos tempos, não muito distantes… mas inacessíveis. Ao recordarmos algumas das coisas que nos fizeram sorrir e nos fizeram sentir felizes no passado, há uma certa energia que passa dessa recordação e estamos, de facto, numa parte do paraíso… A outra parte está ligada àquilo que fazemos agora. Logo, para que possamos recordar com carinho é necessário que façamos do presente algo agradável e memorável, ao qual, num tempo futuro, queiramos regressar por meio da recordação.

Enfim, hoje ficam estes rasgos de nostalgia e saudade (comuns a todos nós!) que não são mais do que um misto explosivo que nos perturba a mente e acalenta o coração…

You Might Also Like

0 apontamentos

Total de visualizações

Procurar no blogue