17:00

Estás tão pertinho de mim. Vejo a tua voz causar arrepios no meu pescoço e o aroma subtil do teu perfume impregnado no meu casaco. Já tinha saudades dos teus bilhetes, curtos e incisivos, na minha mala. Estamos tão próximos. Agradavelmente próximos... E sinto as carícias do teu olhar.
Relembro os dias que perdemos entre orgulhos e mágoas. Tudo culminou naquela entrega tão desenfreada quanto necessária. O silêncio sôfrego do espaço que testemunha a dissecação das resistências, o vacilar das incertezas, o despoletar íntegro e intempestivo do sentimento que nos une. Entendo agora a razão porque já não sentimos o vazio das ausências. O desejo silenciado dessa necessidade insatisfeita que fomos preenchendo com outros corpos, mas nunca com a condição de partilhar as almas. As coisas não mudaram, mesmo que tenham adquirido contornos que não pensamos um dia virem a ser exequíveis.
Não precisas de me confessar o que sentes, eu percebo o que te faz falta e que só eu te posso dar. Gosto desse olhar embebido com que recebes a minha mais ínfima manifestação de carinho. Adoro essa torrente de devaneios, sobretudo quando é carimbada com o teu sorriso. Consigo ver nos teus olhos o reflexo dos meus, felizes e ansiosos por quebrar esta mínima distância que impede que nos diluamos um no outro e vençamos essa barreira que é o medo de perder depois de ter possuído.

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