Observação por detrás do balcão…

09:20

Sentado à espera de a ver entrar, no seu jeito tímido e irreverente, varres o espaço com um olhar rápido e desinteressado. À luz vespertina, acendes um cigarro antes de se deixar ficar a observá-la, enquanto ela se instala no seu cantinho. Ela pousa os livros na mesa e pede o habitual. Sentes ciúmes do sorriso que ela endereça ao empregado quando ele se aproxima.
Julgas que ela ignora os teus olhares desviados. Pensas que ela nem sequer reparou em ti. Não te remetas a essa pose de inferioridade que em nada te favorece. Tu devias ser o primeiro a acreditar no valor que se esconde em ti. O amar à distância, refugiando-te numa identidade quase anónima gera mais ilusão e, no fim, também uma maior sensação de vazio.
Apanha-la desprevenida e olha-la de relance mais uma vez. Deixas a imaginação à solta e começas a esboçar cenários conhecidos a dois, sem perceber que não tens garantias que a outra parte chegue lá apenas por telepatia. Custa dar o primeiro passo, porque representa o vencer das inseguranças, o esbater das resistências.
Daqui, incentivo-te a que vás em frente, obedecendo a esses reflexos corporais que te impulsionam para o objecto do teu desejo. Mas parece que os teus pés estão pregados a este chão sujo. E, mais uma vez, deixaste ficar a apreciar a subtileza com que ela mexe o carioca de café, sem, contudo, conseguires descortinar o nervosismo que lhe escapa nas pontas dos dedos quando percebe o teu olhar pousado nos seus gestos.

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