Olha para mim e diz-me aquilo que vês!

15:28

Fixa o teu olhar em mim como antes e sê verdadeiro para comigo, por uma vez. Diz-me aquilo que vês, sem eufemismos (de preferência)!

Dizes que o meu olhar continua tão vivo, intenso e profundo como da primeira vez. Não! O meu olhar perdeu a profundidade para dar lugar às marcas da tristeza desiludida – resultado daquilo que os meus olhos te viram fazer sem nunca o conseguirem, sequer, conceber na imaginação mais distante da realidade.

Acrescentas que o bronzeado do meu rosto continua a exercer sobre ti a mesma atracção inicial. Mas não consegues ler nas rugas da minha expressão a amargura deixada pelo ressentimento de nunca me teres tocado da forma sincera e fiel como eu pensava.

Ainda agarras as minhas mãos, na tentativa de me convenceres que a textura suave ainda te seduz como antes. Não! Já não seguras as minhas mãos como as conheceste e como tu ainda as consegues ver, porque elas são apenas o resto do vazio que ficou depois de me teres levado para bem longe de mim.

Enrolas uma madeixa do meu cabelo liso e sussurras-me ao ouvido algo que eu sei que já não corresponde àquilo que vês e menos ainda àquilo que sentes!

Aguento. Ouço. Inspiro.

Então chega a minha vez de falar: “guarda bem esse retrato que ainda tens de mim, conserva-o pelo menos na tua memória de dias outonais”. Percebo a tua incompreensão e olho-te nos olhos, fixamente, em silêncio e durante alguns longos segundos…

Por fim, digo-te: “não podes continuar a ver-me assim, porque tu mudaste-me e se tu próprio tens dificuldade em reconhecer em que é que mudei, imagina só o quanto me custa a mim admitir que mudei por tua causa e que não consigo voltar a ser o que era. Aquilo que vês agora é apenas a melhor versão da imagem daquilo que fui um dia. Espero que a perpetues na tua memória, porque eu pretendo voltar a recuperá-la, mas para isso não posso continuar a ouvir de ti uma imagem fictícia de mim.”

Vejo a pena nos teus olhos e dispenso que pronuncies qualquer palavra! Não me deixo comover, por mais piedosa que ainda me reconheça. Volto costas, devagar e determinada, começo a caminhar em direcção à multidão solitária.

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