Dactilografado na cidade grande…

16:17

A porta da pequena varanda entreaberta deixa ouvir o som do rio, que corre sereno, lá longe. A noite quente atreve-se a violar a privacidade do meu quarto desarrumado. Sei que estou por aqui apenas de passagem. Depois desta noite tudo acabou e o que senti ou o que consegui distinguir de tudo aquilo que senti vai ficar aqui, neste tempo breve que se desenrolou neste quarto que não é o meu.

O espelho à minha frente devolve-me a imagem de mim mesma: exausta, mas feliz, com o meu riso retumbante a propagar-se pelo silêncio do quarto e a escapar-se para a noite, através da porta semiaberta. Teclo furiosamente, com a pressa desesperada de que a noite termine para amanhã esquecer o desejo que ainda sinto de permanecer aqui.

A torrente optimista que me percorre as veias do raciocínio leva-me a acreditar que haverá sempre uma solução favorável para os problemas irresolúveis, ou para o fechamento de horizontes que se estende à nossa frente como o único cenário possível.

São estas luzes que hoje me fascinam! É esta a grande cidade que se oferece aos meus olhos sedentos de oportunidades, de novas experiências, de novos contactos, de novos encontros, de novos acasos. Porém, até que ponto tudo isto não passa de ilusões?

Estas mil e uma luzes brilhantes, que se acendem e apagam alternadamente, aqui e além, em pontos concretos na mancha escura da noite abafada, não invalidam os meus sonhos. A ânsia que tenho de vir para aqui e permanecer cresce a cada dia, em paralelo com a ansiedade de fugir daquilo que agora me oprime o livre arbítrio e me enclausura a maneira de ser num formato que me torna irreconhecível.

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