Sol tépido para uma alma arrefecida

04:11

Final de tarde e o caos dos sentimentos reina em mim. Já não sei o que procuro porque não me lembro do que me faz falta. Hoje basta-me a calma refrescante deste local e o vento solitário que vai e volta para fazer companhia aos meus pensamentos atribulados. Lá longe o barulho do tráfego. Cá dentro oiço apenas os engarrafamentos das emoções. Desaprendi a arte de saber estar só assim: com uma caneta e um coração livre. Gosto de estar aqui, sem pressas nem atropelos.

Não quero recuperar nada do que perdi, queria ser capaz de me deixar reconquistar pelas novas nuances das coisas que não são como eram. Sou intolerante com as tentativas singelas de me colocarem grilhões que me impedem de gozar a liberdade. Em dias de correria, esgotam-se as forças, esquecem-se as falhas, abraça-se o sono que tarda em chegar e nas pausas do silêncio, oiço demasiado... Tenho os olhos cansados dos meus dias e sinto um estranho vazio.

Há histórias alheias que nos marcam como tatuagens. Há gestos simples que nos ilustram bem aquilo que torrentes de palavras poderiam dizer. E há realidades que desfazem os nossos ideais mais sólidos. Detesto ver as minhas convicções desmoronarem-se como frágeis castelos de cartas. Nasci quando o mundo ainda não era um campo de batalha. Por isso, às vezes, pouso as armas. Já não as aguento nas mãos…

Infindáveis, era assim que deviam ser os dias sem pressa, sem máscaras, sem correrias, com tempo para uma conversa, com tempo para um gesto mais pessoal, com tempo para dar mais de nós a quem não nos exige e precisa. Vou esquecendo hábitos saudáveis e apagando da minha agenda coisas essenciais. Hoje, neste local, requisito a paz com tempo de gozá-la, com tempo de ficar sem ter que partir a seguir.

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