Aprisionado numa varanda enferrujada

16:00

Ainda hoje não consigo afastar essa imagem da minha consciência. Ao ver-te nessa varanda envelhecida, escura e infeliz, vi apenas a solidão a espreitar por entre as grades enferrujadas. Já a noite caía devagarinho e os carros precipitavam-se para passar o semáforo intermitente, as pessoas aceleravam pelos passeios, atropelando os mendigos, e tu estavas à varanda. Também eu ia a passar cá em baixo, entre a multidão dos que correm para um lugar qualquer, com a pressa de chegar e o cansaço da correria, e, por acaso, vi-te. Continuei a andar, mas abrandei o passo. O pensamento retumbou. Uma manta de cores desmaiadas sobre uns joelhos cansados e incapazes de acompanhar o movimento febril de uma cidade ao entardecer. Uns braços pousados no regaço, uma tristeza no colo para embalar com zelo e tempo. Um rosto envelhecido e resignado contempla a agitação da rua estreita. A minha percepção regista a tua imagem quase imediatamente e, apesar de fugaz, conseguiu captar todos estes pormenores. Entristece-me ver pessoas em varandas, entregues a um tempo que já não lhes suscita entusiasmo. Porque é que há pessoas enjauladas, em varandas que passam despercebidas?

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