Reacções razoáveis?

15:22

Já fomos cúmplices. Agora, comportamo-nos como se fôssemos desconhecidos. Porque razão mudámos tanto? Sou obrigada a admitir que já não és a mesma pessoa que um dia conheci, que um dia admirei, que um dia gostei.

Não identifico em ti os traços que te distinguiam. As características inerentes ao teu charme natural desapareceram. Esforçaste agora por irromper em poses que não são as tuas. Recorres ao dicionário automático, para usar linguagens que não dominas. Envergas roupagens estranhas à tua alma e isso entristece-me.

Não consegues criar intimidade com ninguém. Protegeste de ameaças que nem sequer chegam a ser equacionadas por aqueles que julgas agressores. Penso que foges de ti, das coisas que deixaste de fazer no teu passado ou daquelas que deixas que te continuem a perseguir. A mim, tentas manter-me nas margens da proximidade. Obrigaste-me a abandonar o tipo de comportamento que tinha para contigo.

Acabaram-se as risadas a cortar as madrugadas. Inaugurámos o silêncio que cresce no fingimento de uma aparente normalidade. Se te perguntam por mim, respondes que até estiveste comigo anteontem, mas já não sabes dizer como estava, pois os teus olhos fugiram dos meus, circularam pelo cenário atrás das minhas costas. A inquietude das nossas mãos agrava essa teatralidade a que ninguém presta atenção e nem nós conseguimos admiti-la.

Blog: Atrás de uma porta fechada

Os assuntos que abordamos são sempre preenchidos por pessoas que o outro nunca ouviu falar e cuja existência não é assim tão significativa quanto tentamos fazer parecer. A nossa interacção quando estamos em eventos sociais roça quase a comicidade pelas invenções que arranjamos para simular desencontros.

Evitámos tropeçar em encontros indesejados, mas eles acontecem. Há sempre algo ou alguém que exigem uma comparência simultânea e, claro, para não dar nas vistas, acedemos e reagimos como antes. A alma é que se ressente num desconforto que nunca julgámos ser possível sentir. É esse toque ligeiro de ombros para a fotografia que ficará esquecida num qualquer álbum, indiferente à má publicidade que foi feita. Depois de vendermos o produto, dedicamos as nossas atenções a segmentos de público distintos.

Acabadas as marchas sociais, arrumamos o guarda-roupa de emergência até à próxima. Vestimos a pele de todos os dias e não a tiramos. Nem mesmo quando voltamos a estar juntos, a sós, permitimos que as emoções dispam essa pele, apenas chegam a ser uma camuflagem.

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