Contar-te-ei

02:38

Hoje decidi contar-te, finalmente, a história que tomei como minha, sem o ter desejado, sem me ter sido imposto. Isto se não estiveres demasiado eufórica com a tua existência cansativa.

Cresci feliz ao brincar com aquelas emoções genuínas de quando atravessamos a infância sem a valorizar. Corri atrás da bola, em equipas que gostavam realmente de me ter no seu plantel e nas quais era a capitã sem precisar que me nomeassem. E foi sendo assim. Fui assumindo papéis de liderança que, definitivamente, não foram feitos para mim.

Edward Hopper

Corri atrás dos outros e perdi nos jogos das escondidas. Saltei à corda, reclamando mais ritmo, mais competitividade. Foram essas palavras-chave que me foram dilacerando a pureza de carácter.

Fui somando pequenas derrotas, mas ganhei todas as guerras em que me envolvi. Só que, nesses campos de batalhas, perdi amigos e até os inimigos. E não pode haver nada pior que a indiferença dos outros.

Houve beijos que não dei e abraços que não senti. Não me diverti, porque não soube nem podia fazê-lo. Não sorri quando vi chegar, mas disse adeus nas partidas com ar triunfal.

Fui aprendendo a ser infeliz resignada. Embora tenha tentado, por tudo, lutar por mudar, falhei. Perdi essa guerra única e isso impediu-me de conhecer a paz.

Como vês, minha enérgica amiga, a minha história basicamente faz-se de lágrimas que nunca ninguém viu escorrer pelas minhas faces e toda eu sou ruína dessa tristeza que nunca se exauriram de me oferecer.

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