A valsa das mãos

04:07

Eles passam ali os dias. Estão permanentemente acompanhados, são constantemente vigiados e incansavelmente estimulados. As suas mãos repousam no colo até que outras se abeiram e as puxam para a dança da ocupação. E há música ali, que eles vão cantarolando fora de ritmo.

Eles passam ali os dias, empenhados num treino intensivo que lhes permita desenvolver o gesto mais banal, o mesmo gesto que a maioria de nós faz inconscientemente. Levantar a mão, pegar numa tesoura, misturar as cores com um pincel, levantar e sentar sem prestar atenção, fazer uma colagem ou um tapete são tarefas com uma complexidade tal que lhes exige esforço, paciência e muita persistência.


Por vezes, eles também se cansam e exasperam, porque passam os dias ali, trabalhadores de uma rotina que lhes foi imposta, escravos de uma vida em que tudo é um obstáculo, em que tudo implica a presença do outro, vassalos de um quotidiano de dependência.

Eles passam os dias ali, confinados àquele espaço, serenos alguns, agitados outros, mas rodeados com pessoas bem-dispostas e optimistas, que cuidam deles como se de filhos se tratassem.

Eles passam os dias ali, onde talvez regresse ou onde, se calhar, nunca mais voltarei. Porém, sei que por ali se continuará a fazer um grande trabalho de integração, entreajuda e, sobretudo, de respeito pela dignidade humana.

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