(As)sentido

16:52

imagem retirada da Internet

Já tinha assomado à janela, várias vezes, nesse dia. Todos os barulhos se assemelhavam a familiares. Todos os pensamentos estavam presos à ansiedade de ver chegar para desamarrá-los da preocupação. Eles, porém, demoraram-se, conscientemente.

Na vidraça do carro, escorriam pesarosas gotas de água misturadas com uma indelével camada de poeira. O pó que assentava sobre as memórias daquele lugar era bruscamente sacudido a cada visita.

Havia menos chaminés com fumo em contraste com árvores mais velhas. Havia mais cães rafeiros e menos vacas. Havia poucos carros no único café. Havia a mesma lareira, mas sem tantos pés ao seu redor.

Quando se empurra a porta, há ainda rostos que nos acolhem, felizes. Quando a fome empurra para a mesa, estendem-se ainda as diligências com naturalidade. Quando a vontade de falar não cessa, há ainda todo um serão para partilhar.

E, no dia seguinte, já de partida, perguntas-me: “será que daqui a 50 anos, tudo isto ainda vai cá estar?” Silêncio. Silêncio povoado pela dúvida premente de saber se, nessa altura, nós vamos voltar. Silêncio aquiescido pelas saudades rendilhadas que já sentimos deste tempo.

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