Desacordo dactilografado

05:39

Começa a impor-se como regra e eu (que nunca gostei das excepções à regra!) adopto os desvios. Procuro o software para me converter a versão original e faço-o com muita convicção e sem remorsos.

É cada vez mais frequente pedirem-me para escrever ao abrigo do Acordo Ortográfico, esse documento subscrito com o objectivo de aumentar o número de falantes e, em última instância, a continuidade do idioma.

Admito a minha dificuldade em escrever com erros, agora que me habituei a ser implacável no primor pela correcção e rigor da Língua Portuguesa. Caem os “c”, os “h”, as maiúsculas, alguns acentos e até a ausência do hífen deixa alguns vocábulos quase ilegíveis.

O dicionário vai sofrer actualizações que, intimamente, me recuso a aceitar. Os livros, as cartas e os postais que se acumularam lá por casa vão tornar-se relíquias. Alguns meios de comunicação social arriscam já a nova grafia e é tão estranho que chega a causar-me desconforto interpretativo.

Imagem retirada da Internet

As palavras que me habituei a escrever e a ver escritas estão a dar lugar a esta modernice linguística, sedimentada na necessidade (?!) de uniformizar as regras ortográficas do Português.

E não consigo imaginar os filhos dos meus netos a lerem “Os Lusíadas” ou um poema de Fernando Pessoa com as regras que agora nos impingem. Perde-se a identidade numa promessa vã de globalização, de ganho maior.

Perdoem-me, mas eu gosto de escrever como aprendi na escola primária. Alegra-me sentir a minha Língua como plasticina nas minhas mãos e não me peçam agora para esculpir cada pensamento à luz destes novos ditames.

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