Inexorabilidade

14:22

Durante muito tempo, a sua pronúncia remetia-me para as aulas de português do liceu. Soava a palavra diferente, de enlevo erudito. Usava-a com muita parcimónia. Estava decidida: não lhe queria vulgarizar o sentido.

Para os outros, era só mais um vocábulo, enfiado num qualquer texto que liam sem prestar atenção. Para mim, era o termo que resumia a linha que atravessava tantos dos meus pensamentos à época.

Mais tarde, descrevia uma realidade. Enxertava algumas horas quase esquecidas. Caminhava, lado a lado, com a teimosia de fazer perdurar o que era significativo, o que era pedra basilar, o que era coerente e justo.

Hoje impregna os dias por nascer. Remete para essa incapacidade de viver com olhos no futuro, sem os espectros sombrios do passado. Invoca as ilusões fragmentadas, os sonhos pontapeados, as relações cansadas, as ausências vincadas, as metas longínquas e o peso de envelhecer.

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