Tropeços verbais

06:43

É difícil travar um diálogo quando o nosso interlocutor se mostra tão reticente, tão distante e tão desinteressado. Mendigar pela sua atenção integral é tarefa árdua. É quase como um trabalho arqueológico, das pistas aos achados. Quando, não raras vezes, acaba infrutífero.

Depois, há os que falam de mais. E demasiado alto. O ruído que causam provoca-me um desconforto mais do que auditivo, quase anímico. Apregoam soluções para tudo. Julgam-se legítimos detentores de verdades inequívocas. Vendem a sua demagogia nos mesmos moldes dos autocolantes em festas de Verão.

Eu gosto dos embaraços iniciais que não deixam ocupar a comunicabilidade. Gosto dos tropeços nas palavras, do raciocínio em formato de amálgama por causa do nervosismo miudinho. Gosto de caminhar, entre o medo e a determinação, ao encontro de quem quero escutar.

Torna-se simples, se olharmos nos olhos e falarmos com clareza. Torna-se exigente se não permitirmos aquele silêncio necessário, antes, durante ou no final da resposta. Torna-se irresistível se conseguirmos perceber o não dito, os desabafos, as frases soltas e as expressões mais genuínas.

You Might Also Like

0 apontamentos

Total de visualizações

Procurar no blogue