Perdulários

11:44

Abraçam causas que não sentem como deles e ignoram os seus próprios interesses. Alimentam apenas o sub-sistema, entusiasmados e acríticos. Sim, há o sistema conhecido de todos, falado por todos, temido por todos e consentido por todos. Depois e pelo meio, existe o sub-sistema que apara as pontas soltas do primeiro ou lhe serve de balão de ensaio.

É cada vez mais irritante a facilidade e a leviandade com que se chega a líder de algo, com palmadinhas nas costas ou assentindo com a cabeça, sem manifestar discordâncias de espírito. A pouco e pouco, mas de forma irreversível, tornam-se prepotentes, demagógicos e frívolos aos olhos dos mais inconformados. Querem impor aquilo que vendem como ideais, sem os compreenderem e sem lhes sentirem o peso. Exigem que assim seja, recorrendo a injúrias, ameaças e jogos de poder sombrio.

Gastam-se rios de tinta e queimam-se horas de tempo útil para aconchegar esta corja de pseudo-líderes, que se fingem empenhados em causas nobres, que evocam os mais desfavorecidos, os que sofrem, os que desconhecem os seus direitos. Depois do show off, sentam-se à mesa para degustar comidas chiques e beber o melhor champanhe.

Estes líderes, agigantados pelo mediatismo pontual ou contínuo, não têm sentido prático e o seu grau de assertividade e coerência obtém apenas os mínimos. Por isso me irritam tanto os políticos, os sindicalistas, os presidentes de colectividades, os representantes de movimentos. Detesto os meandros e os nevoeiros que se levantam à sua volta. E quando chega alguém que, genuinamente, quer mudar alguma coisa (mesmo que seja no fundo da sua rua), desacredito. Mas há uma esperança que renasce quando não agita bandeiras, não aplaude discursos balofos, não finge ficar impressionado, não se deixa levar por cantigas, não promete conseguir nem tentar, apenas faz.

Estes, os verdadeiros, não merecem a luz das câmaras nem umas linhas no jornal. Esses morrem desconhecidos. Esses são apenas o orgulho da família, do grupo de amigos ou da comunidade mais próxima. Esses excederam-se nos esforços para obter algo sem esperar recompensas na praça pública. Esses são os exemplos silenciosos de como se luta por um ideal, por uma causa, por um mundo francamente melhor e mais justo.

E hoje, quem consegue ser verdadeiramente inspirador? Quem nos consegue conquistar verdadeiramente só pelas palavras, pelos silêncios, pelas atitudes, pelos manifestos ou pelas acções de luta?

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