Eugénio de Andrade escreveu…

11:44

«A tua vida é uma história triste
A minha é igual à tua.
Presas as mãos e preso o coração
Enchemos de sombra a mesma rua.

A nossa casa é onde a neve aquece.
A nossa festa, onde o luar acaba.
Cada verso em nós próprios apodrece,
Cada jardim nos fecha a sua entrada.»

Encontrei este poema, num livro que já li há muito, e lembrei-me de ti. Recordo-me de ter gostado desde logo destas palavras, por terem um significado muito pessoal. Houve tempos conturbados em que só encontrava paz num certo jardim. O mesmo jardim que o tempo e o Homem fizeram questão de remodelar, destruindo o sossego que lá se conseguia.

As nossas vidas continuam a ser histórias tristes, mas a nossa amizade não foi passageira nem nunca o será. Talvez um dia regressemos ao mesmo jardim, no qual as nossas mentes atormentadas possam alienar-se, por minutos, do nosso conflito com o mundo e com os outros, e sentiremos a velha paz de espírito que só alguns lugares conseguem proporcionar de forma quase imperceptível. Tenho mesmo muitas saudades desse jardim. Acho que nunca mais obtive aquela calma porque nunca mais lá voltámos…

Refuto que “cada verso em nós próprios apodrece”, porque cada verso, lido e sentido, faz surgir algo em nós; cada verso lança-nos na introspecção e na nostalgia, como aconteceu hoje comigo.

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