Será o fim do Jornalismo?

14:12

O jornalismo e, recentemente, os weblogs contribuem para o fluxo contínuo de informação disponível na Internet. Mas jornalismo não é sinónimo de bloguismo, cada um tem características que o distingue do outro, embora haja algumas semelhanças entre eles.
Weblog ou blog é um diário em formato digital, no qual o seu autor (blogueiro) apresenta perspectivas sobre um ou mais temas, independentemente de pressões sócio-políticas, económicas e/ou editoriais. As entradas do blog, normalmente datadas, surgem pela ordem inversa em que foram escritas, ou seja, as mais recentes encontram-se no topo e vão “empurrando” para baixo as restantes, numa coluna que se estende por uma página ou várias, formando arquivos.
A grande novidade dos blogs é permitir aos visitantes deixar comentários, nos quais revelam interesses e opiniões. Esta possibilidade, por um lado, ao introduzir diferentes pontos de vista, enriquece a informação; por outro, a um maior número de comentários corresponde um maior número de visitas, já que os ciberleitores seleccionam ou desprezam a informação considerando esse dado. O feedback quase instantâneo recebido pelos blogueiros é uma mais-valia, porque, depois de analisar os comentários, detêm um conhecimento sobre o público do seu blog, funcionando, um pouco, como estudos de audiência. Este facto pode levar o blogueiro a adequar os conteúdos às expectativas dos receptores.
O segredo do sucesso dos blogs está na interactividade estabelecida com os ciberleitores, tornando-os mais participativos, críticos, vigilantes e exigentes. Os blogs são uma ágora na net, na qual todo o indivíduo pode pronunciar-se desde que tenha capacidade argumentativa que lhe permita discutir, inaugurando uma inovadora e dinâmica forma de comunicação.
O serviço gratuito do software blogspot.com e as ligações de banda larga (no trabalho e em casa) facilitam a criação de blogs. Como passam grande parte do dia conectados à rede, os blogueiros publicam diariamente, até várias vezes ao dia. Um blogueiro lê um artigo, acrescenta-lhe algumas frases, estabelece um link e publica. A simplicidade e a rapidez desta actividade explicam o crescimento da blogosfera.

Jornalismo é a profissão à qual cabe a produção e a difusão de informações, depois de proceder à pesquisa, recolha, análise, selecção, confirmação e, por fim, hierarquização de factos, atendendo a valores como actualidade, veracidade e interesse público. O jornalista tem uma formação académica, ético-deontológica e prática específica para o exercício da actividade ao contrário dos blogueiros. Jornalista é aquele que:

  • investiga, que vai ao fundo das questões em busca da verdade;
  • nunca despreza as fontes;
  • jamais se vende por qualquer preço;
  • não abdica da sua identidade;
  • rejeita o comodismo e o facilitismo;
  • nunca põe as suas ideias e convicções acima dos factos;
  • coloca a objectividade, a imparcialidade, a credibilidade, a seriedade, a verdade e o rigor acima de todas as outras coisas;
  • escreve sem a intenção de adquirir visibilidade e/ou reconhecimento público;
  • não se serve dos seus textos para criticar ou ofender pessoas e/ou instituições;
  • aprende todos os dias algo de novo;
  • consciente da sua responsabilidade social, concilia liberdade com responsabilidade;
  • sabe ver e ouvir, retirando do que ouve e do que vê apenas e só aquilo que constitui matéria de informação;
  • jornalista que é jornalista tem que ser capaz de manter um verdadeiro espírito de equipa, cultivando a camaradagem e dignificando a profissão.

Assim, não é jornalista quem quer, mas sim quem nasceu com vocação e faz, a cada dia, todos os esforços para obter uma melhor informação.
A falta de identidade dos blogueiros ou das suas fontes conduz a um estado de impunidade face àquilo que publicam, desresponsabilizando-os dos seus actos. Daí a existência de blogs que são compilações de rumores ou de plágios camuflados, desrespeitando os direitos de autor.

Se a maioria dos profissionais da comunicação defendem que os blogs não fazem jornalismo, pode-se questionar o porquê de muitos jornalistas serem blogueiros e de alguns jornais incorporarem blogs nas suas edições on-line. Os blogs são a expressão máxima da liberdade, neles os jornalistas podem dar a sua opinião sem lesar a autoridade e a fiabilidade do jornalismo que praticam e apresentar não apenas o produto final (notícia/reportagem), mas o seu processo de construção. Neste contexto, os blogs surgem como um complemento do jornalismo.

Os blogues são úteis como alternativa para jornalistas desempregados ou mesmo para estudantes de jornalismo, ao possibilitar-lhes a prática de um jornalismo amador e independente. Se mantiverem o blog regularmente actualizado até poderá tornar-se num jornal digital.

A relação entre jornalismo e blogs pode ser duplamente positiva, já que poderá despoletar a cooperação recíproca e uma competição saudável entre ambos, cuja palavra de ordem será melhor qualidade informativa e quem beneficiará com isso serão os internautas. Recorde-se que os blogs apareceram à margem das revistas electrónicas e hoje convivem pacificamente com elas. Por exemplo, a revista “Wired” ou mesmo o jornal britânico “The Guardian” citam blogs como fontes de algumas informações.
Os blogs não são uma ameaça ao jornalismo nem os blogueiros são substitutos dos jornalistas. Os blogs vão ocupar o seu próprio lugar na paisagem mediática existente, o que não implica a extinção do jornalismo. No máximo serão uma alternativa aos media, fazendo com que o tempo que antes se dedicava ao consumo da informação transmitida pela televisão, rádio e/ou imprensa diminua. No entanto, nem o bloguismo vai ser o modelo de jornalismo online especializado do futuro nem os blogueiros vão ultrapassar a função do jornalista no seu papel de mediadores entre as fontes de informação e o público. Portanto, não é impossível uma coexistência entre jornalismo e bloguismo.

Sugestões:

"Jornalistas e Público: novas funções no ambiente online" e "Interactividade: a grande promessa do jornalismo online" (Elizabete Barbosa)

"Webjornalismo: considerações gerais sobre Jornalismo na Web" (João Canavilhas)

"Os Géneros e a Convergência: o Jornalista Multimédia do século XXI" (Anabela Gradim)

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