Sobre o tempo...

09:27

O tempo não se perde. O tempo investe-se em algo que pode ser interessante e gratificante ou em algo inútil e fastidioso. O tempo não tira nada; pode é dar-nos de modo diferente e que não entendemos. O tempo não nos rouba a vida, nós é que queremos roubar a vida do tempo. O tempo não é linear, faz umas curvas ininterruptas. O tempo não foge, nós é que não temos ritmo para o aproveitar como queremos. Os ponteiros do relógio correm uns atrás dos outros à mesma velocidade. O cronómetro vital tem uma relação semelhante. Porém, às vezes, há atrasos, mudanças de horas e novas acusações temporais.
O tempo é algo que nos transcende e que nos é imanente. O tempo está em nós, somos o que fazemos dele e no que ou em quem o dedicamos. O tempo tem uma dimensão que nos escapa, porque nunca o conseguimos abarcar na totalidade e discipliná-lo de acordo com os nossos desejos sem que isso vá contra os caprichos do Destino. Há quem pense que brinca e controla o tempo, mas não tem o poder de parar o tempo quando é conveniente, de acelerá-lo quando há pressa de escapulir-se de coisas indesejáveis ou para chegar mais rapidamente a algo que cria ansiedade. E, no fim, quando se apercebe já o tempo fez os seus estragos: tirou-lhe a infância num truque de roubo por esticão, atirou-o para a adolescência impreparado e esqueceu-se dele temporariamente, arrastou-o para a vida de responsabilidades, preocupações, objectivos, ambições e, depois, prende-o às memórias do que ficou inconcretizável no tempo que passou... E como o que passou, passou ficou para sempre no tempo que nunca se teve e ao qual só se acede mentalmente, ao qual não se consegue regressar nem tentar uma reprodução o mais fiel possível porque nada se repete.
O tempo não destrói: constrói. O tempo não afasta: aproxima do essencial. O tempo não é atenuante: é compulsivo. O tempo resiste aos vários tempos de cada um de nós, ao tempo de todos nós, sem que consigamos alcançar a noção e o valor deste conceito. Em tempo de temporizar o tempo é útil dizer que o tempo tem sempre a mesma medida quando ouves as horas nos sinos ou os ponteiros do relógio de parede ou de pulso, mas nunca quando sentes o tempo em ti!

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