Há amizades convencionais, no entanto, eu prefiro acreditar que só existe um único tipo de amizade: aquela que é desinteressada, incompatível com o egoísmo ou ambições pessoais que se sobreponham e prejudiquem o outro; aquela que exclui o fingimento; aquela que envolve duas ou mais pessoas numa comunhão recíproca, numa empatia anímica, numa partilha intensa, numa construção sólida.

O pilar de uma amizade é a sinceridade. Só a sinceridade faz nascer uma amizade, preserva-a e a torna-a “eterna” e significativa. É também essencial, numa relação de amizade, a cumplicidade, a frontalidade, a compreensão e, sobretudo, a tolerância. Numa amizade é preciso saber pedir desculpas quando erramos com a(s) outra(s) pessoa(s) e, principalmente, conseguir perdoar. É preciso ainda saber escutar e respeitar os silêncios; saber interpretar um olhar; abraçar sem que seja necessário pedir; ter paciência. Toda a amizade que seja verdadeiramente merecedora desse nome é uma construção recíproca, cuja “moeda de troca” é um misto de companheirismo permanente, respeito mútuo, carinho, dedicação, atenção, convívio.

Um amigo está sempre à tua espera; estende-te a mão, aperta a tua e não te larga até se certificar que consegues levantar-te sem auxílio depois de caíres; dispensa que lhe peças para estar contigo, porque sente quando precisas dele; zela pelo teu bem-estar como se do próprio bem-estar dele se tratasse; orgulha-se dos teus feitos; preza a tua sinceridade acima de todas as coisas; não lamenta o que te faz sofrer, luta por te defender do que ou de quem te faz sofrer, ou tenta atenuar os seus efeitos. Um amigo é como se fosse um anjo da guarda invisível, que caminha ao nosso lado num percurso paralelo.

Um amigo é aquele que nos faz perceber que existe uma réstia de alegria por detrás de toda a nossa tristeza profunda; é alguém que sabe sorrir de tal forma que nos contagia o espírito, enchendo-o de energia, motivação e ânimo; é aquele que nos propicia bons momentos; é aquele que comunica connosco usando um código que escapa aos outros; é alguém que não nos limpa as lágrimas, mas tenta evitar que elas se formem nos nossos olhos.

Um amigo distingue-se pelo seu sorriso. Um amigo não te dá um sorriso qualquer, isto é, visível no rosto para todos, o sorriso dele nasce na alma. Um amigo está sempre com dois braços abertos, para os quais podemos correr sempre que surjam obstáculos ou para repartir as alegrias das conquistas. Um amigo é aquele que não te pergunta o que tens ou o que se passa contigo, porque tem “ultra-sensores” que captam o teu estado de espírito. Um amigo tenta, sob a sua alçada, proteger-nos de tudo o que comprometa a nossa felicidade.

Mas atenção: um amigo não é aquele que concorda sempre contigo! Aliás um bom amigo dá-te o seu ponto de vista, mesmo que ele esteja no pólo oposto do teu. A diferença é que ele não to impõe como o melhor e é do confronto de perspectivas e opiniões que brota a complementaridade.

Um amigo é um porto seguro ao qual tu regressas em busca de um bem-estar que perdeste temporariamente ou em busca de algo que te faz falta e que só ele te sabe dar. Só um amigo te pode oferecer algo que te deixa vazio e pleno, ou seja, quando não o tens por perto ou quando o tens, respectivamente. Um amigo é o único que nos faz perceber o elementar da Vida; nos aceita tal como somos: conhece os nossos defeitos e as nossas qualidades; nos ajuda a ver o que realmente queremos; nos critica sempre que nos recusamos a aceitar algo; digamos que é o nosso “eu” reflectido noutra pessoa.

Há amigos que se fazem e que temos a noção, naquele preciso momento, que serão amigos para o resto da Vida, pois só o facto de os termos conhecido “justificam toda a aventura da existência”! São esses amigos que nos fazem sentir que temos uma importância vital para alguém, que nos fazem sentir especiais.

É graças aos amigos que descobrimos a forma mais primária de relacionamento entre os homens: o Amor. Sim porque a amizade é uma das manifestações mais dignas do Amor. É a Amizade que nos torna pessoas melhores, que nos enriquece como seres humanos. Portanto, não esperem até perderem os vossos amigos para lhes darem o seu devido valor. Descubram no vosso coração a essência e a beleza deste sentimento. O segredo da Amizade está, fundamentalmente, em aprender a dar sem esperar receber.