Observo-te ao longe

04:49

Não tenho memória das tuas feições. Acho que nunca vi um rosto tão simples, tão vulgar, mas cujo olhar profundo, lhe atribui uma beleza invulgar e cativante.
Aprisionas os transeuntes que passam por ti, nessa rua cheia de espíritos opacos, com um mero olhar de relance. Desarmas a intransigência dos que, numa qualquer hierarquia descabida, te são superiores com um sorriso fechado. Conquistas os insensíveis com uma palavra sabiamente proferida e propositadamente isolada de um contexto específico. Consolidas as motivações dos egoístas com a tua presença descontraidamente ponderada. Admiro a simplicidade e a segurança com que caminhas. Gosto do som da tua voz quando acalmas os receios súbitos ou os sofrimentos silenciados. Imagino que deva ser arrebatador alguém filiar-se no calor dos teus braços.
Isto é o que, vagamente, percepciono de ti ao longe… e é assim que quero permanecer. Sim, não quero aproximar-me e descobrir que afinal não passaste de uma miragem.

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