O tédio

17:35

Canalizei toda a energia que me percorri as veias para a ataraxia. Liguei a televisão para tentar desligar a sessão de imagens interiores que desfilavam no palco do meu cérebro, confundindo espaços e tempos, vivências e sonhos… uma verdadeira sessão de cinema para a qual não tirei bilhete. Levantei-me do sofá de repente e dirigi-me ao frigorífico. A água que bebi estava tão gelada que congelou todas as palavras que tinha ensaiado para dizer a quem não esperava. Voltei a ouvir o barulho da tv e apressei-me a apagá-la. Não me suporto quando me sinto irrequieta e sem nada para fazer. Contemplo o relógio na ânsia de que os ponteiros se movam mais depressa, parece que estão a fazer troça.
Fui ver a noite à varanda, porém até disso me fartei em escassos minutos. O céu comprimido, as estrelas coladas à inexistência celestial. Fechei a janela e percorri a sala num vaivém para conseguir uma tontura que me obrigasse a sentar. Muitos passos, as ideias esbarravam umas nas outras para transpor a porta da inconsciência. Doía-me a cabeça e não percebia a razão. Procurei um comprimido, que acabei por não tomar. A campainha tocou ou terá sido só impressão minha? Interroguei o emudecimento do compartimento e esperei. Nada! Foi mesmo uma sensação a trair-me os sentidos da percepção.
Não ter nada para fazer é angustiante e enfadonho... É sentir a passagem do tempo, inexorável e dolorosa, lentamente, bem devagarinho. E não surgiu nada para fazer apenas aquela expectativa, aquela irritação descabida, aquela ansiedade selvagem quase ingovernável…

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