Ao final da tarde…

16:46

Estou no metro e, à minha frente, está um carrinho de bebé e uma mulher que vela pela sua segurança. Olho pela janela a paisagem imutável do caminho já percorrido algumas vezes. As casas degradadas em contraste com as mansões aristocráticas, os parques de estacionamento cimentados e os espaços de terra batida e muito pó, as altas chaminés das fábricas e as cordas que cedem ao peso da roupa em terraços minúsculos, os prédios de muitos andares e as casas térreas, etc. Os contrastes cansam-me a vista e volto-a para o interior da janela. Vejo, então, a bebé à minha frente a sorrir para rostos absortos que estão a quilómetros de distância dali, para rostos fustigados pela fadiga, para rostos de pedra, glaciais e impessoais.
Sorris, mas sorris muito. Tens uns olhos do mais vivo dos azuis e olhas o que te rodeia contente. Um dia mais tarde, também tu, tal como todos nós, vais perder essa capacidade de te rires desses rostos, esse riso de nada que se tornará ridículo quando te vires reflectida no vidro do metro sem te puderes lembrar de, quando um dia, te rias e não te importavas com a indiferença desses rostos que não conseguiam trocar um sorriso contigo. Gostava que conservasses esse sorriso infantil… Mas creio que à medida que o tempo vai avançando to vai roubar e tu vais ser impotente para lutar por mantê-lo. Muitos de nós, talvez, até possuam ainda esse sorriso numa qualquer arca, velha e esquecida, no sótão da lembrança e quando o descobrem, têm medo, voltam a colocá-lo nessa arca para o preservar, sob pena de alguém o usurpar. Bates as palmas com as tuas pequeninas mãos quando tu é que merecias um aplauso a esse sorriso inocente!

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