O orgulho ferido dos vencidos

16:27

O Secretário Geral do PS e Primeiro-Ministro, José Sócrates, no rescaldo das eleições autárquicas do passado domingo, reconheceu que os resultados ficaram muito aquém das suas expectativas. Mas também porque esperava ele outra coisa? Se o Primeiro-Ministro sai admirado com os resultados destas eleições deve ser o único. Era previsível que o PSD ganhasse em toda a linha, pois é a única força política da oposição que tem poder efectivo e meios para o mostrar. Sócrates ainda afirmou que o seu partido continua a ser uma força autárquica importante, sem dúvida, mas perdeu muitas câmaras para o PSD.

A cada dia o governo avança com uma nova medida que gera logo polémica e contestação imediata e vai disseminando um descontentamento transversal pela sociedade. Não passa uma semana sem que sejam noticidadas situações de crise vividas por empresas nacionais ou de encerramento de multinacionais; protestos de desempregados que são despedidos sem aviso prévio, sem justa causa e sem indemnizações; funcionários públicos descontentes com o aumento da idade da reforma; economistas a lançarem previsões contraditórias do controlo do défice; forças de segurança a reclamarem direitos que demoraram muito tempo a obter e que agora ameaçam serem-lhes retirados; professores a lamentarem as reformas educativas; estudantes furiosos com o aumento das propinas e à espera da primeira oportunidade para se manifestarem; enfermeiros em greve; magistrados em greve. E José Sócrates mantém-se impassível e firme nas suas decisões irrevogáveis. Não se permite sequer a ter uma atitude de tentar chegar a um consenso.

Fruto da derrota ou sei lá do quê, Sócrates só consegue exaltar os ânimos quando afirma que os portugueses não souberam distinguir as eleições autárquicas da actuação do governo. Mas sejamos realistas, esta é a última forma que resta ao cidadão para ser tomado em consideração, dado que greves, apelos, petições entre outros meios diplomáticos não resultam em qualquer efeito. Assim, estas eleições eram a única alternativa que restava para mostrar um “cartão vermelho” ao governo.

Plenamente de acordo com o facto do governo não governar em função dos ciclos eleitorais, contudo será que não o devia fazer em função das necessidades dos eleitores? Não importa que a qualidade de vida dos cidadãos diminua drasticamente, que o poder de compra é baixo em consequência das sucessivas medidas fiscais como o aumento dos impostos (como o IVA), a subida diária dos combustíveis, o aumento das taxas das portagens, etc. O balanço deste governo é francamente positivo se atendermos à soma de todas as greves e protestos a que já teve direito.

Seria conveniente que Sócrates entendesse o resultado destas eleições autárquicas como um aviso e tomasse outra atitude, uma atitude de conversação com as forças da oposição, que tentasse perceber os motivos de tantas manifestações e ouvisse os seus motivos. Sobretudo, a grande falha deste governo é não explicar às pessoas, sem pleonasmos ou palavras eruditas das quais muitos poucos portugueses sabem o significado, as razões de tomarem determinadas medidas.

Depois de realizar esse trabalho de esclarecimento, talvez o descontentamento se mantenha, porém haverá verdadeiras vénias a um estado democrático que preza acima de tudo a liberdade de expressão e consagra entre outros direitos e deveres: o direito à greve e o dever de exercer o seu direito de voto. Nestas eleições, a maioria dos portugueses usou-o com consciência.

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