Aí tens o teu retrato!

18:18

Todos os teus raciocínios são falaciosos. Consegues sempre persuadir qualquer um apenas com a convicção com que afirmas os maiores disparates de cada vez que abres a boca para anunciar grandes ideias. Podias poupar-nos a discursos polidos, cuja profusão de conceitos e axiomas veementes, nos ensurdecem e tolhem o pensamento crítico. O que tu ofereces é apenas uma visão forjada da realidade. Reconheço que tens dotes artísticos: escolhes sempre os melhores tons, pintas sempre as conjunturas mais aprazíveis, salpicas sempre com optimismo as piores notícias; misturas com ciência a realidade e o sonho; obténs uma homogeneidade de alienação à qual todos sucumbem. Tentas sempre e tanto fazer-te amar que até enjoa.
És apenas mais um mentiroso assumido desses que proliferam como ervas daninhas nas bermas da estrada. Nada te afecta: nem um pedido de clemência, nem um grito de revolta, nem um elogio pomposo. Tornaste-te naquilo que eu nunca quis que te tornasses. Tu és aquilo que fazes, tu és aquilo que são as tuas dissertações, tu és aquilo que sempre negas quando te aponto o dedo com esse argumento: és uma falácia. Afundaste nos teus próprios raciocínios porque depositas neles toda a tua crença e julga-los verdadeiros. Negas a ti mesmo que te enganas a ti quando defraudas as consciências dos outros. Consegues uma proeza que poucos logram nesta vida: traíste a ti próprio sem arrependimentos e consegues nisso um absurdo bem-estar que me aterroriza.

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