Falando de pessimismo…

01:10

Hoje é apenas um daqueles dias paradoxais, em que o sol lá fora contrasta com o meu cinzentismo interior. Por isso, estas palavras de Eça de Queirós vêm tão a propósito (ou talvez não)…

“O Pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desinvidualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da Vida; portanto lhe tira o carácter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um Destino inimigo e faccioso! Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga, quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho: menos porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a Fortuna. Quem se queixaria de ser coxo – se toda a Humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve e friagem e borrasca de um Inverno especial, organizado nos Céus para o envolver a ele unicamente – enquanto em redor, toda a Humanidade se movesse na luminosidade benigna de uma Primavera? (…) O Pessimismo é excelente para os Inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da Inércia. Se toda a meta é um monte de Dor, onde a alma se vai esborrachar, para que marchar para a meta, através dos embaraços do mundo?”

Também prefiro acreditar que o pessimismo é apenas um subterfúgio à necessidade de acreditar em dias melhores e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para os conseguir passar para a realidade. Posso tentar encontrar neste excerto um apelo a reagir; a procurar a força perdida; a resistência sem tréguas face a todas as contrariedades do quotidiano que se vão acumulando.
O ser humano também tem dias de descarga, de energias enfraquecidas, de ânimos desfalecidos, de olhares tristes, de sorrisos difíceis. Ninguém é excepção! O que nos distingue é o tempo que demoramos a assimilar que o pessimismo não passa de uma teoria cuja aplicação prática não deve depender de nós.

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