Aviso

16:33

Tens que aprender a viver sem mim. Sei o quanto sentes a minha falta, o quão custoso é para ti a minha ausência, mas acredita que é necessário! Só quando te sentires “sem ninguém” vais aprender a sobreviver primeiro e, depois, reaprender a viver.

É óbvio que todos temos dependências, porém temos que ser autónomos, a fim de evitar sermos incapazes de tomar decisões por nós próprios, de conseguirmos arriscar, de assumirmos as nossas fraquezas, de encontrarmos a determinação que nos escapa. Hoje, tens que perceber que longe ou perto, agora ou nunca, para sempre ou não, a vida nem sempre quer as pessoas como eu perto de ti e tens que te desenrascar! Antes que a vida nos desfira uma partida desse tipo, desta vez, antecipemo-nos a ela (por muito doloroso que isso possa parecer)…

Também me custa imenso suportar a frieza que te revelo. No entanto faço-o porque sei que é a coisa certa para te libertares das pessoas que mais gostam de ti; dos que zelam por ti incessantemente, sem distinguir a noite do dia; dos que te admiram pelo que és, para poderes descobrir a força débil que ameaça não crescer dentro de ti. E precisas de dar continuidade a esse crescimento! Sim, eu e os outros podemos desenvolvê-lo com fertilizantes, mas és tu quem tem que o semear, regar, tratar, esperar e, por fim, colher o que de mais precioso as experiências nos legam: a maturidade.

Vais ter que suportar as quedas e as lágrimas. Vais ter que te desiludir para continuares a ver a magia das ilusões que nos deixa estarrecidos. Vais ter que correr para longe da multidão para não te deixares sugar pela sua sede de poder material. Vais ter que sofrer para perceberes o valor das pequenas conquistas. Vais ter que te convencer que ninguém te vai ajudar a levantar, pois hoje já não há bons samaritanos que te estendam a mão desinteressadamente.

Não vou atender os teus telefonemas enquanto os entenderes como uma consulta rápida nas páginas amarelas, sob os títulos de “máxima urgência” ou “socorro”, para resolveres algum problema. A experiência é a mãe do conhecimento e tu não podes obter o teu conhecimento com base na minha experiência. Tens que acumular vivências (boas, más, desgastantes, gratificantes, insignificantes, dispensáveis)!

O que interessa é que, quando perceberes a importância que o nosso afastamento significa, vais encarar tudo e todos sem receio de não saber como lidar, sem a perspectiva de me ter sempre por detrás a atenuar os erros, a apaziguar as dores. Claro que podes correr sempre para os meus braços, vou abraçar-te com toda a força para te proteger do mundo feroz que te forço hoje a enfrentar, mas essa força é insuficiente para te proteger e te poupar ao sofrimento.

Vou esperar pelo dia que vais pousar a tua cabeça no meu colo e contares-me os conflitos resolvidos independentemente, os caminhos trilhados sem consultar os itinerários que constam nos mapas, os sucessos alcançados sem esconder os sacrifícios que implicaram. Aí o orgulho que já hoje tenho em ti avolumar-se-á.

Confia em mim! Hoje podes pensar que é injusto, que te abandonei. Enganaste redondamente, porém não me esforço por te demonstrar… Sigo-te de perto sob a cortina de névoa que todas as manhãs sentes quando sais de casa. Vejo-te partir triste de manhã e regressar subtilmente sorridente ao final da tarde. Outras vezes, vejo-te à janela a espiar a noite com um brilho crescente no olhar.

Sim, tenho imensas saudades tuas, mas não devo e não posso confessar-te o que sinto. A seu tempo tu saberás sem que precises que to comunique. Essa é a essência de todas as provações que vais passar sem mim: saber escutar os sentimentos que emergem do teu coração e dos corações mais gélidos ou mais acalentados sem teres dúvidas da sua genuinidade.

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