Bragança: o impacto social das piscinas interiores

16:00

Inaugurado a 1 de Julho de 2003, o complexo das piscinas interiores tem gerado uma grande adesão da comunidade brigantina à prática das modalidades aquáticas.

As Piscinas Municipais disponibilizam modalidades para todas idades, desde a natação para bebés e adaptação ao meio aquático até às modalidades de aprendizagem, aperfeiçoamento e competição. A adesão do público veio superar as expectativas como confirmou a Vereadora da Cultura e do Desporto, Fátima Lopes, e pode ser entendida como um sinal de dinamização e desenvolvimento da vida desportiva do Nordeste Transmontano.

O número de utentes prova o impacto que as piscinas desencadearam: a partir de Julho de 2003, as Piscinas Municipais registaram 20 019 utentes; em 2004, o número aumentou para 60 391 e até Outubro de 2005 já se registaram 56 411 utentes.

A instituição tem vindo a oferecer novas modalidades para dar resposta a uma procura crescente, tal como explica a Técnica Superior de Desporto e responsável pelas Piscinas Municipais, Joana Alves: “a necessidade de alargar o leque de opções surge porque o núcleo da população é muito variado e vasto e, então, tenta-se dar resposta mediante a necessidade das pessoas e a procura, desde a natação para bebés até à classe hidrosénior. É tentar dar o máximo de resposta à procura e proporcionar à população em geral, desde os mais novos aos mais velhos, o máximo de oferta mediante o seu gosto e a sua necessidade.

O grande lema das Piscinas Municipais é permitir que ninguém deixe de praticar desporto por falta de oferta. Contudo, a manterem-se os níveis de adesão e a registar-se um aumento da procura será difícil manter esse lema se, por exemplo, o espaço do recinto das piscinas não for alargado. A Vereadora da Cultura e do Desporto afirma que “o que se pretende, neste momento, é rentabilizar o espaço” e quanto a perspectivas para o futuro, há que esperar para ver. Recorde-se que a remodelação das Piscinas Municipais implicou um investimento da Câmara Municipal de Bragança no valor de 3 milhões de euros.

As duas piscinas desportivas (a de aprendizagem e a de competição) estão abertas todo o ano, salvo excepções pontuais aquando de obras de manutenção ou por motivos de férias. Perante essas situações, “as pessoas revelam descontentamento por não poderem seguir aquela rotina de actividade física” como diz a responsável Joana Alves, o que revela o hábito da prática regular de desporto que se tem criado. Nesse sentido, as piscinas têm sido importantes para contrariar as tendências de sedentarismo que já se começavam a verificar, trazendo mais qualidade de vida para os brigantinos.

A responsável confirma que as piscinas tentam criar hábitos de vida saudável e fomentar a prática desportiva, mas alerta que “embora sejam muitos os utentes das Piscinas Municipais, Bragança tem muita mais população do que os utentes da piscina”. No entanto, é indiscutível que as piscinas têm contribuído para consciencializar a comunidade em geral da importância da prática do desporto no desenvolvimento global do indivíduo. “À partida quando alguém se responsabiliza e compromete numa actividade onde obrigatoriamente paga e tem aulas, as pessoas cumprem e vão, se vão por exemplo sem compromisso, ir nadar por nadar, já não tem assim tanta relevância. As pessoas sentem-se nesse compromisso de fazer actividade física”, explica Joana Alves. A Vereadora da Cultura e do Desporto acrescenta “a prática em conjunto das modalidades” como outra motivação.

As
piscinas municipais têm conseguido dar resposta às necessidades educativas e formativas da infância e da juventude, às necessidades de prática desportiva especializada, às necessidades de manutenção da saúde dos cidadãos e promover a recreação e a ocupação dos tempos livres.

Em relação às dificuldades que as piscinas enfrentam no dia-a-dia, a resposta de Joana Alves ilustra bem o impacto social das Piscinas Municipais: “a principal dificuldade neste momento é dar resposta a tanta procura”.


Os utentes das Piscinas Municipais
As razões que levam os brigantinos a praticarem modalidades aquáticas prendem-se sobretudo com questões de saúde. Joana Alves refere ainda “as questões do foro psíquico, a reabilitação, a prevenção, o gosto, o espírito competitivo, o convívio e o bem-estar” como outras motivações.

As infra-estruturas modernas permitem que os utentes com alguma deficiência motora usufruam das piscinas como qualquer outro utente, porque houve a preocupação de construir espaços sem barreiras arquitectónicas. Contudo, no caso de utentes com necessidades psíquicas específicas ou deficientes motores é necessária formação específica dos professores e parcerias com instituições de saúde.

As escolas da cidade utilizam as piscinas no âmbito do desporto escolar ou do programa da disciplina de desporto. Por exemplo, as escolas secundárias possibilitam aos seus alunos da área de desporto a prática da natação. Também, a
Escola Superior de Educação de Bragança necessita das piscinas para leccionar a modalidade de actividades aquáticas. Há ainda o Projecto de Expressão Físico-Motora que envolve todos os alunos das escolas do 1º ciclo do Ensino Básico do concelho. Mas, nesta fase, a responsável garante que as piscinas não precisam de estabelecer protocolos com entidades particulares para dinamizar.

De referir que as pessoas que desejam praticar natação não precisam de estar inscritas em nenhuma modalidade, para esses casos foi criado o “regime livre”. Os portadores de cartão-jovem e de idoso beneficiam de um desconto de 50%, o que acaba por ser um incentivo à prática da natação.

A avaliação que é feita do grau de satisfação dos utentes com as condições disponibilizadas “é muito positiva em todos os sentidos” (Joana Alves), quer ao nível das condições materiais, quer em relação à qualidade das aulas ministradas. Quanto ao grau de receptividade do público a eventos promovidos pelas piscinas “é sempre positivo”, de acordo com Joana Alves. Os torneios de natação e os festivais aquáticos são eventos realizados anualmente nas piscinas interiores e a Maratona de Hidroginástica e o Campeonato da Primavera vão ter, no próximo ano, a sua 2ª edição.

As Piscinas Municipais de Bragança já têm um recorde nacional. No VI Torneio Zonal de Grupos de Idade – Piscina Curta (em Abril de 2004) – uma prova de âmbito nacional – foi obtido um novo máximo nacional na prova de 4 x 100 metros livres, na categoria feminina, pelo Grupo Desportivo de Vila Nova de Famalicão. Quando foram palco da V edição dos Jogos do Eixo do Atlântico – um evento desportivo internacional –, as Piscinas Municipais foram uma referência.

As piscinas vieram facilitar o acesso generalizado das pessoas à prática desportiva e criaram novos postos de trabalho. Assim, as Piscinas Municipais têm-se revelado um factor de desenvolvimento do concelho de Bragança.


Hidroginástica e Natação: as modalidades com mais adesão
Das actividades orientadas na época 2005/06, o destaque vai para as modalidades de competição e pólo aquático, que se vêm juntar às modalidades de natação para bebés, adaptação ao meio aquático, aprendizagem e aperfeiçoamento (para crianças e adultos), hidroginástica (inclusive para as grávidas) e natação sincronizada, já conhecidas dos brigantinos.

As aulas de hidroginástica consistem em praticar ginástica dentro de água, sem implicar o domínio das técnicas de natação. Portanto, esta modalidade é acessível a todas as pessoas desde que se sintam familiarizadas com o meio líquido. A procura desta modalidade significa que a hidroginástica é uma prática desportiva em crescimento na cidade.

O facto do peso corporal, dentro de água, diminuir até 90%, torna o exercício ideal para a recuperação de atletas lesionados, idosos que queiram praticar exercício (mesmo que tenham limitações físicas), pessoas com dificuldades motoras, grávidas que desejem uma melhor preparação física para o parto, indivíduos com problemas a nível ósseo ou com excesso de peso, embora a hidroginástica seja recomendada para todas as idades e sexos.

Na Terceira Idade, a prática da hidroginástica coloca-se, principalmente, ao serviço da saúde. Alguns especialistas recomendam a hidroginástica em detrimento da fisioterapia para melhorar a força muscular. Este tipo de terapia além de seguro, visto que “o risco de lesão é zero” (Joana Alves), possibilita que cada pessoa escolha a intensidade dos exercícios, conforme a sua capacidade, o que acaba por ser um motivo que leva os idosos a frequentarem a modalidade.

Na classe hidrosénior, a maioria dos alunos são pessoas reformadas que, para além dos motivos de saúde (ou por sugestão médica ou por iniciativa própria de prevenção, de reabilitação, de recuperação de intervenções cirúrgicas recentes), vêem na hidroginástica um pretexto para saírem de casa e para conviverem com outras pessoas. No geral, os utentes notam melhorias na sua condição física.

As turmas são maioritariamente constituídas por mulheres. A professora Daniela Miranda explica a situação assim: “penso que os homens gostam mais da natação”. A componente musical acaba por dinamizar o ambiente das aulas ao “marcar o ritmo”, como afirma a professora.


Natação: a Escola e o Clube
A natação é um desporto completo que exercita o corpo todo e a mente, sendo a sua prática salutar a vários níveis e para todas as idades. A natação é outra das modalidades mais praticadas nas Piscinas Municipais. Por isso, a Escola de Natação está aberta a
bebés, crianças e adultos, pois a prática da natação não escolhe idades.
A natação é considerada particularmente vantajosa quando praticada na infância. Daí que se recomende a sua prática a partir dos três meses – altura em que se inicia a adaptação ao meio aquático – e a partir dos três anos pode-se então iniciar a prática da natação com a aprendizagem das técnicas.

Aprender as principais técnicas de natação é o objectivo primordial da Escola de Natação, que procura desenvolver o prazer de nadar a par da evolução técnica. Na etapa da aprendizagem, pretende-se dotar o aluno do conhecimento de cada uma das técnicas e fazer com que o aluno concilie coordenação corporal e controlo respiratório. Na fase de aperfeiçoamento, procura-se atingir uma maior eficiência técnica, ou seja, nadar maior distância ou mais rápido com menor esforço.

Na Escola de Natação, “as crianças aprendem a nadar os quatro estilos e participam nos torneios de escolas organizados pela Associação Regional de Natação do Nordeste”, esclarece o professor Rui Salselas. O Clube de Natação ambiciona dotar os utentes de competências mais profissionais, ou seja, pretende formar atletas federados.

A ideia de criar o Clube de Natação surgiu porque, o ano passado, a Escola de Natação ganhou o Campeonato de Escolas de Natação. Esse facto levou a que se avançasse com uma nova modalidade de competição. Rui Salselas diz que se estão “a dar os primeiros passos em termos de federados” e refere quais são os objectivos do Clube de Natação: “este ano é aprender a dar os primeiros passos e para o ano, apostar um pouco mais”.

Nas Piscinas Municipais, há uma turma de pólo aquático e outra de natação sincronizada. Contudo, a prática de pólo aquático e de natação sincronizada surge “a título de exibição” (Joana Alves), para demonstrar as modalidades, uma vez que ainda não participam em competições.

Promover a socialização, o convívio, a união e oferecer outro tipo de vivências desportivas são metas a alcançar nas aulas de competição, de acordo com o professor Rui Salselas.


Projecto de expressão físico-motora: uma ideia inovadora ao serviço da comunidade
Trata-se de uma iniciativa que proporciona a prática regular de actividades desportivas aos alunos das escolas do 1º ciclo do Ensino Básico do Concelho de Bragança, independentemente da sua condição económico-social ou das suas capacidades. O projecto já vai na 2ª edição e envolve cerca de 800 jovens.

A
natação infantil revela-se benéfica ao nível do desenvolvimento da psicomotricidade, da formação da personalidade, da sociabilidade e do reforço do sistema cardiovascular das crianças. Há especialistas que garantem que a prática da natação tem reflexos num desempenho intelectual mais satisfatório, facilitando, por exemplo, a alfabetização. Parece ser consensual que, na fase de crescimento, um atleta de natação tem um desenvolvimento mais completo.

Ao longo da aula nota-se uma alegria e uma desinibição crescente das crianças e, com o aumento do entusiasmo, torna-se difícil impor disciplina, como admite o professor estagiário Rui Cortinhas: “é um bocado difícil, porque elas ao entrarem em contacto com a água é mais difícil do que no meio terrestre, porque ao terem a água sentem-se mais livres e mais à vontade e é mais difícil controlá-las.”

Registam-se diferenças entre as aulas leccionadas a alunos que frequentam escolas da cidade e alunos que frequentam escolas da aldeia. Os primeiros têm comportamentos mais agitados e eufóricos, por vezes, em consequência do stress de estarem envolvidos em múltiplas actividades (desde aulas de música, ballet, línguas, natação, ATL, etc.). As crianças das aldeias revelam-se mais serenas e obedientes. Este último facto pode justificar-se porque muitas dessas crianças nunca tiveram um contacto com a piscina anterior a este projecto. Este último facto contribui para que as crianças tenham um sentimento de menor autoconfiança e um maior grau de motivação em aprender, por isso são também mais fáceis de controlar dentro de água, como confirma o professor: “os alunos da cidade são mais difíceis de controlar dentro de água porque quase todos já passaram pela piscinas, então os da aldeia é mais fácil porque estão mais motivados para aprender”. Daí que os níveis de concentração sejam superiores.

As aulas poderem ser ministradas a turmas de alunos da cidade e das aldeias, o que favorece o convívio e a troca de experiências entre os diferentes alunos. Nestas aulas, procura-se ainda desenvolver o espírito de equipa e o respeito pelo adversário. O facto de incluir alguns minutos finais dedicados à brincadeira na água surge como uma forma de motivar os alunos.

Para além de ser um desporto completo, a natação é sinónimo de divertimento para a maioria das crianças. Porém, algumas crianças revelam “medo da água”. Fazer com que uma criança perca o medo da água é outro desafio que o professor tem que enfrentar: “tem que se mostrar que andar dentro de água é divertido”. A habituação à água é um processo gradual, não se aprende a gostar da água de um dia para o outro. São as experiências agradáveis que a criança vai vivendo que lhe permitem associar a piscina a momentos divertidos.


Projecto “Férias Desportivas”: em prol da ocupação dos tempos livres
Em 2005, a Câmara Municipal de Bragança levou a cabo o projecto “férias desportivas”, em que as crianças puderam participar em várias actividades desportivas.

A necessidade de criar hábitos de vida saudável e combater o sedentarismo das férias escolares, bem como a desocupação dos tempos livres estiveram na origem desta iniciativa que reuniu cerca de 55 crianças. As actividades oferecidas por este
programa não tiveram qualquer custo para os jovens participantes.

De acordo com a Técnica Superior de Desporto, Joana Alves, o balanço “foi muito positivo, a adesão foi a 100%. Mais uma vez excedeu as nossas expectativas porque criámos e tentámos ocupar os jovens nos seus tempos livres a fazer desporto e as crianças adoraram.” Por isso será uma experiência a repetir no próximo ano.

(uma palavra de agradecimento a todos aqueles que tornaram esta reportagem possível)

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