Entre a cidade e o rio

03:33

Os carros a passarem. O som dos seus motores a entupir os meus ouvidos, abafando a percepção do som da água que corre do outro lado. Tenho o rio votado à minha contemplação distraída e ocasional. A calma que dele emana não tem repercussões algumas em mim ou no ambiente circundante. Tenho o pensamento desocupado de coisas imprevisíveis. Remexo as memórias de ontem para me lembrar do que não posso deixar de fazer amanhã.

Está sol, mas sopra uma brisa refrescante. Passa um barco, com olhares de turistas fascinados pela história que se pressupõe existir em cada pedra das casas velhas. Fotografam para recordar. Sorriem para agradecer. São humildemente simpáticos e esbarram com a má educação de pessoas que se materializa em tom de voz elevado, a par de ocultarem informações úteis.

E agora o rio está novamente em paz, sereno, apaziguador, indiferente ao bulício citadino.

Está-se bem aqui, entre o lado humanizado, com carros sequiosos de ganhar mais velocidade, com pessoas a falar alto nos passeios, e do outro lado, o rio, imenso, natural, tranquilo. Esta dicotomia leva-me a transpô-la para nós... Todos temos duas partes assim: aquela que procura a aventura, o dinamismo, a pressa, a correria, a energia, enquanto a outra parte anseia pela quietude, pela oportunidade de pousar o pensamento em algo que não se sabe o que é nem lhe interessa, pela simplicidade, pela natureza, pelo silêncio, pela paz.

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