Bancos do liceu

03:18

É aqui, nestes bancos de madeira gasta pelas gerações que por aqui passaram, que a consciência se despega do presente e voa para outros tempos. Não vou dizer que não sinto saudades desses tempos que passaram repentinamente a ser passado. Olho para as paredes, os mesmos desenhos de antes, as assinaturas intemporais, aquilo que ali ficou de alguém que partiu e não voltou.

O edifício das inúmeras janelas que, hoje, observo à distância é um local que me pertence de alguma forma pelas pequenas e imensas memórias que ainda faz nascer em mim. Gosto de voltar aos locais por onde passei e nos quais permaneci por algum tempo. Gosto sobretudo de ver como continuam imóveis e imutáveis e ver o quanto eu mudei desde então, como mudou a minha maneira de os ver.

Acho que, às vezes, isto me faz falta. Porém, já não estão aqui os sonhos de chegar mais longe. O campo de futebol está vazio e já não ouço as vozes a desafiar-me. Os bancos estão desocupados e já não há quem me chame de lá. Os caminhos por detrás do liceu já não significam o espaço de recato e distância dos olhares públicos. As escadas laterais já não são o lugar das risadas em tardes solarengas.

Hoje cai chuva e sinto um certo vazio feito de nostalgia… Aqui recordo-me também das pessoas que agora já não lembro, porque foram para longe sem perceber porquê. Sei que é improvável que voltem aqui, mas se voltarem é impossível não lhes acontecer o mesmo.

Nestes bancos do liceu, já não estão os grupos de antes naquele determinado lugar que era o “canto deles”, já não estão as caras familiares, os rostos conhecidos. Agora, tudo é diferente por aqui e quase sem significado. Já não se ouve a algazarra dos feriados e a euforia dos intervalos, há apenas um silêncio imanente a isso, um silêncio que resulta do que já aqui não está.

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