Esquadrinhando a desilusão...

15:08

Fico desesperado por saber que não há nada que possa fazer para atenuar a dor que, agora, a esta alta hora da noite, bastante distante de mim, estarás a enfrentar. O teu sofrimento escondido com aquele sorriso fácil mas forçado – algo que nunca tinha percepcionado até então – deixa-me à beira do pânico por saber que nada posso fazer afinal. Acabei por te magoar bem mais do que aquilo que me deste a entender e eu sinto-me tão preso à completa impotência de nada poder fazer. Afasto do pensamento a dolorosa ideia de ver cair lágrimas do teu rosto. Parte-me o coração saber que fui eu que as provoquei inadvertidamente. Não sou o culpado, porque nesta questão, o veredicto final é e repartição igualitária da percentagem de culpas.

Recebi tanto de ti no pouco que tu pensas que me deste. Nunca ninguém me olhou assim dessa forma, intensa e frontal, destemida e determinada, profunda e desafiadora. Fiquei como que hipnotizado por essa humildade associada a uma simpatia genuína. E a tua grande arma, esse sorriso constante a aquecer-me a vontade de te contemplar só assim, recortada contra as luzes de um final da tarde, sentada nessa cadeira de esplanada.

A sensualidade escondida na tua voz, obriga-me a confessar que sempre desejei ouvir o tom mais baixo próximo do meu ouvido. As palavras que saem dos teus lábios rosados parecem sempre as certas em todas as situações, mesmo naquelas em que ninguém sabe o que dizer sem que pareça despropositado. Tu consegues sempre encontrar o vocábulo perfeito no teu dicionário emocional.

Não desistes, por mais que te sintas desanimada, cansada ou triste. Nunca consegui perceber como e aonde consegues ir buscar tanta persistência, tanta capacidade de resistência. De ti sobressai um halo de energia positiva contagiante. Admiro-te ao ponto de parecer que não me refiro a alguém dentro dos limites terrenos. Mas, eu, que senti o aperto dos teus braços quando me senti desprotegido, sei que és bem real, demasiado presente para poderes ser diáfana.

Hoje, quando te foste embora e eu me deixei ficar sentado na esplanada a ver-te afastar, com passos regulares e seguros, sei que não foi o virar de costas definitivo. És incapaz de o fazer mesmo. Queria poder tomar a tua dor, porém por orgulho sei que já a escondeste tão bem, que me seria difícil até a mim (que te conheço já suficientemente bem) perceber em que estrato da tua alma refeita a cada nova experiência a enterraste.

Eu vou ficar a desejar que os sedimentos do tempo se depositem nela, que os despojos do que restou se desvaneçam no vento da vida, em direcção ao passado. É justo que sigas em frente, sem te prender a mim. Não consigo compreender nem quero tentar compreender, porque seria apenas constatar o que ainda não sou capaz de admitir.

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