Chamaste?

14:56

Não ouvi! A confusão de sons que faz lá fora juntamente com a profusão dos barulhos daqui tornam qualquer coisa inaudível, até mesmo o teu grito de socorro. Vejo-te sem as expressões de antes e o rosto carregado de preocupações que não te pertencem. Fico a pensar que isso se deve à inexorabilidade do tempo. Também pensava que tinhas códigos secretos para pedidos de socorro e que só os usavas em situações de extrema emergência.

Dizes que me chamaste e que eu não vim em teu auxílio. Como poderia vir se não te ouvi? Tenho vivido numa amálgama de cores surdas e ruídos difusos. Tenho tido dificuldades em escutar o que é elementar, porque há muita coisa a deturpar-me a percepção emocional. Chiam travões no asfalto e há vozes nocturnas que enchem a rua vazia. Cantam os tristes e riem os cínicos. Precisava do silêncio (essa abençoada ausência de sons e a predisposição de os preservar!), mas não consigo ouvi-lo nem deixá-lo existir quando se aproxima.

E responde-me tu: como poderia ouvir-te se o eco do teu chamamento não se propagou no vazio que nos começa a separar?

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