Fora de portas

10:39

Rostos sujos, cansados, desesperançados, em fila. Um rosto jovem e um rosto velho, em ambos o mesmo olhar de mágoa incerta. As dúvidas quanto ao futuro ditam as curvas das expressões de desalento. Esperam sentados, situados entre a revolta e a resignação. Outros encolheriam os ombros, cruzariam os braços, esperariam uma solução. O inconformismo estampado nos rostos impressiona, mas não mais do que os olhos perdidos em lugar nenhum, na direcção daquele que já foi o seu local.

Vêem as sombras dos corpos que se bamboleiam à sua frente, apenas a alguns metros de distância. Movem-se por aqui como se os seus passos fossem familiares para o chão que pisam. Contudo, não há antipatias mascaradas nas palavras e só sobressai a humildade de uma condição. Abrem a porta de casa com orgulho. Deixam ver a pobreza do interior sem vergonha.

Não queremos ver que, para além de tudo o que possam dizer, seja em diferentes registos, da resistência à acusação, estão apenas assustados com uma realidade montada à volta sem que lhes tivesse sido dado tempo para se adaptar. E ninguém se importa em perceber até que ponto estes rostos sujos e desanimados escondem a pena, a sensação de perda, o medo.

Eu sinto-me a fazer parte dessa outra parte, que explora realidades que não são a sua. Embora compreenda que assim é e evite intromissões, percebo que é impossível não invadir, mesmo fora de portas.

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