À beira-mar, a tentar ancorar…

07:38

Após horas que devoraram a minha paciência, reencontro finalmente a paz que traz a liberdade pela mão. Aqui, na areia fria e suja, já posso ficar calada sem me sentir ultrajada. Junto ao mar, sabe-me bem o rebentar salgado das ondas. Nestas horas vagas que se estendem pela madrugada de maresia, acendo um cigarro, sem vontade de o consumir.

O embate das ondas nas rochas imponentes lembra-me as mágoas que vêm e vão nestas madrugadas solitárias. Penso nos que, atrás de mim, depois das dunas e para lá da estrada, vivem sozinhos e ressentidos das solidões que os habitam. Eu não gosto de partilhar a minha e também não me envergonho por ela, porque só ela me devolve o bem-estar necessário, a compreensão que não encontro em alguém, a confraternização mais justa e recíproca. Não lhe exijo presença, ela acompanha-me sem me exigir exclusividade. Tacitamente, eu acabo por não a deixar perturbar.

Hoje penso ainda nas perspectivas que se desmoronam nas rochas e corre uma aragem, leve e superficial, tão superficial e leve que nem chega a atingir a alma!), passa por mim. É preciso que a persistência renasça e os ideais se reconstruam. Aos ouvidos chegam-me os murmúrios das conversas que roçam a futilidade dos encontros com gente diferente. Pessoas que acabaram de se conhecer e, por isso, tentam encontrar um mínimo denominador comum para tema de conversa.

Chamam-me e tenho que ir. Acabo por me integrar sem esforço. Contudo, a vontade continua presa àquelas ondas constantes que metaforizam as tristezas que ainda me falta viver, que prometem outras alegrias para acrescentar às que já aportaram na minha vida.

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