Mergulhando nos teus olhos...

15:04


Os teus olhos só me pediram para não olhar as profundezas da alma ferida, mas eu insisti. Contrariei a tua vontade. Perscrutei o que teimaste em esconder e fui incapaz de ver o essencial para compreender o porquê de te protegeres por debaixo dessa fuga aos olhares directos. Afinal, é o sentir a alma despida por um olhar que embora se tente familiarizar, não deixa de ser estranho.

Contornei as tuas bem guardadas distâncias de segurança e sei que te magoei. O teu olhar enevoou-se depois de ter decidido olhar-te nos olhos e abandoná-los sem os enfrentar directamente, tal como fiz da primeira vez, quando quis conhecer os teus segredos.

Enfrentas muitos olhares directos e não tens receio. Porém, no instante em que alguém ousa fazê-lo e devolver-to com igual intensidade, recuas. Conheces muitos olhares por aí, muitos espelhos embaciados de almas cinzentas, muitas janelas abertas de corações felizes, mas como não fomos concebidos de forma a poder avaliar o nosso próprio olhar, precisamos de alguém que o faça em alternativa ao espelho retrovisor do nosso carro.

Tive o atrevimento de olhar nos teus olhos castanhos e doces, protegidos por uma fina camada quase translúcida de uma força resoluta. Os teus olhos são inibidores, sobretudo quando se observam de bem perto. Os teus olhares são belos porque mostram um mosaico da tua alma rica e multifacetada.

Os teus olhos são também o teu ponto fraco, denunciam a tristeza acumulada de tudo aquilo que já observaram e de nada se puderam orgulhar de ter visto da forma como queriam. Encontro nesses olhos uma sombra permanente de quem ainda não viveu os sonhos que delineou.

Olho bem, numa espécie de rusga profunda, e descubro partes de ti que não revelas a ninguém e que eu não vou cometer a inconfidência de desvendar, ainda que os nossos olhares andem desencontrados.

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